quarta-feira, 10 de março de 2010

Como atravessar a efermidade sem perder a fé

Como atravessar a enfermidade sem perder a fé


Introdução

A enfermidade é algo que afeta todos nós. Ela não respeita cor, sexo, idade ou condição social. Ela atinge homens e mulheres, crianças e velhos, pobres e ricos, crentes e incrédulos. Todos nós, em algum momento de nossas vidas, já tivemos que enfrentar uma enfermidade. O Rev. Hernandees Dias Lopes, com muita propriedade, disse que “a vida é a professora mais implacável que existe, porque primeiro ela aplica a prova e só depois ensina a lição. Na escola é diferente, primeiro aprendemos a lição e só depois é que vem a prova. Na vida há uma inversão, por isso, nenhum de nós está preparado para enfrentar uma enfermidade”. Conquanto a doença seja uma possibilidade universal, onde todos estão sujeitos, é um grande desafio teológico. Como conciliar a bondade de Deus com as conseqüências dolorosas da enfermidade?
Esse tema já foi debatido por inúmeros homens no percurso a história. C.S. Lewis afirmou que “Deus sussurra em nossos prazeres, mas grita em nossas dores”. Em um livro que se popularizou muito em nossos dias, Porque Coisas Ruins Acontecem a Pessoas Boas, o autor, que perdeu sua filha adolescente para a leucemia, passa o livro inteiro tentando explicar como Deus poderia ter permitido que isso acontecesse. A resposta que ele deu, em suma, foi a seguinte: Deus é bom, mas não há nada que ele possa fazer acerca do sofrimento. Ele não pode interferir. Suas mãos estão atadas. Ele não é culpado. Ele não pode ser acusado.
Entretanto, essa conclusão não é o resultado de um estudo apurado na palavra de Deus acerca da doença. Muito daquilo que tem sido dito sobre doenças partem de experiências pessoais de homens e mulheres que expressaram seus dilemas teológicos frente à enfermidade. Portanto, antes de ser uma análise bíblica e teológica são elucubrações de alguém que busca respostas para seus próprios questionamentos.
Por isso, quero convidá-lo a examinar quatro casos de enfermidade registrados no Novo Testamento, precisamente nas cartas paulinas, com o intuito de elaborar uma reflexão bíblica sobre o assunto. O tema de nossa mensagem é Como Atravessar a Enfermidade Sem Perder a Fé.

1º Caso: Trófimo – auxiliar de Paulo que o acompanhou na terceira viagem missionária
“Quanto a Trófimo, deixei-o doente em Mileto” (2 Tm 4:20)

2º Caso: Timóteo – jovem pastor da cidade de Éfeso, filho espiritual do apóstolo Paulo e amigo leal (das 13 cartas do apóstolo há 8 referências a Timóteo)
“Não continues a beber somente água; usa um pouco de vinho, por causa do teu estômago e das tuas freqüentes enfermidades” (1 Tm 5:23)

3º Caso: Epafrodito – amigo pessoal de Paulo e cooperador do ministério pastoral do apóstolo. Era um dos mensageiros encarregados de levar às igrejas as cartas de Paulo.
“Julguei, todavia, necessário mandar até vós Epafrodito, por um lado, meu irmão, cooperador e companheiro de lutas; e, por outro, vosso mensageiro e vosso auxiliar nas minhas necessidades; visto que ele tinha saudade de todos vós e estava angustiado porque ouvistes que adoeceu. Com efeito, adoeceu mortalmente; Deus, porém, se compadeceu dele e não somente dele, mas também de mim, para que eu não tivesse tristeza sobre tristeza. Por isso, tanto mais me apresso em manda-lo, para que, vendo-o novamente, vos alegreis, e eu tenha menos tristeza. Recebei-o, pois, no Senhor, com toda alegria, e honrai sempre a homens como esse; visto que, poir causa da obra de Cristo, chegou ele às portas da morte e se dispôs a dar a própria vida, para suprir a vossa carência de socorro para comigo” (Fp 2:25-30)

4º Caso: Apóstolo Paulo – o principal evangelista e teólogo da Igreja
“Por causa disto, três vezes pedi ao Senhor que o afastasse de mim. Então ele me disse:A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza” (2 Co 12:8,9a)
“E vós sabeis que vos preguei o evangelho a primeira vez, por causa de uma enfermidade física” (Gl 4:13).

A partir desses quatro casos (Trófimo, Timóteo, Epafrodito e Paulo), iremos analisar e extrair algumas premissas acerca da enfermidade que acomete o cristão.


1 – Até os filhos de Deus mais consagrados ficam enfermos

Os quatro exemplos envolvem líderes cristãos altamente notáveis, estimados e maduros. O apóstolo Paulo com seus escritos constitui a espinha dorsal da teologia cristã. Foi o maior teólogo e o maior plantador de Igreja. Um homem sem igual cujo currículo ministerial contemplava inclusive arrebatamento (2 Co 12:1-6). Os outros três homens foram líderes notáveis da Igreja Primitiva e companheiros fiéis do apóstolo.
A Bíblia diz que suas qualidades espirituais e ministeriais não impediram que os mesmos fossem acometidos por enfermidades. E, por conseguinte, sendo homens de uma grande estatura espiritual, não obtiveram a desejada cura divina. O Antigo Testamento também registra um caso emblemático. Eliseu, o grande profeta de Israel e instrumento de Deus para curar diversas pessoas, morre após o agravamento de uma enfermidade (2 Re 13:14,20).
Será que estes homens não tinham fé? Será que esses homens não oraram pedindo a Deus que os curasse? Definitivamente, não! Eram grandes homens de Deus. Mas, estes quatro casos vêm nos ensinar que o sofrimento não é incompatível com a vida cristã. Portanto, se você é um servo fiel a Deus e está passando por momentos de grande tribulação e tristeza, sendo varrido e consumido pela enfermidade, lembre-se: até os filhos de Deus mais consagrados ficam enfermos.



2 – Fazer a obra de Deus e estar no centro da vontade de Deus não nos isenta de enfermidades
Há uma tendência natural dos cristãos em atribuir a causa de doenças a pecados. Entretanto, todos estes homens estavam fazendo a obra de Deus e estavam exatamente no centro de sua soberana vontade.
A história da Igreja registra inúmeros casos de homens que foram instrumentos poderosos nas mãos do SENHOR e, mesmo assim, experimentaram as agruras da enfermidade. O grande reformador João Calvino era um homem extremamente enfermo, pois tinha asma, úlcera gástrica e cálculo renal. No entanto, pregava duas vezes todos os dias. No domingo chegava a fazer três pregações. Visitava, aconselhava, palestrava, estudava e correspondia-se com gente do mundo inteiro. Richard Baxter, pastor reformado do século XVII, sofria de várias e graves enfermidades. As constantes dores de dente, dores estomacais e hemorragias o fizeram ser tratado por 35 médicos diferentes, sem contudo dar solução aos seus problemas. Entretanto, esse grande pregador mantinha um trabalho constante de visitação, aconselhamento e pregação.
Esses são exemplos de homens que viveram no centro da vontade de Deus mas não foram poupados dos males da enfermidade. Portanto, caso você esteja atravessando uma tempestade avassaladora, lembre-se que isso não significa que você está em pecado ou mesmo está fora da vontade de Deus.


3 – A cura é um ato da soberania de Deus
A Bíblia registra alguns eventos onde Jesus curou todos, absolutamente todos que foram ao seu encontro (ver Mt 4:24; 8:16; Mc 1:32; Lc 6:18-19). Entretanto, a Bíblia também faz menção de alguns episódios onde Jesus curou um único indivíduo em detrimento de uma enorme multidão de enfermos que o cercava (ver Jo 5:1-9). Em alguns casos a cura aconteceu mediante a fé daquele que desejava a cura (At 14:9), em outros casos na ausência dela (Mc 9:24).
Conquanto Deus utilize homens para promover a cura, somente Ele pode curar alguém. Assim, figuras contemporâneas em nosso meio tais como “curandeiros” ou mesmo orações poderosas não existem. O que existe é a graça de Deus fluindo através de um homem que é um mero instrumento nas mãos do SENHOR. O apóstolo Paulo já havia pontuado: “Assim, não depende de quem quer ou de quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia” (Rm 9:16).
Esses quatro homens eram referenciais de vida e fé na comunidade cristã primitiva. Inúmeros milagres aconteceram através das mãos deles. Diversos enfermos foram curados através de seus ministérios. Mas no dia em que eles eram carentes de cura, não foram agraciados porque a cura é um ato da soberania de Deus e não estava nos planos do Eterno cura-los.


4 – Há um propósito divino em nossa enfermidade

Essa é uma doutrina que devemos nos agarrar com todas as forças. Na vida do cristão não existem casualidades. Quando o assunto é doença, nossa tendência é associar a enfermidade ao juízo de Deus. Imaginamos que a doença é algo contra nós é não a favor de nós. Achamos que Deus está trabalhando contra nós, quando na verdade Deus está trabalhando por nós.
O apóstolo Paulo nos garante que “todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito” (Rm 8:28). Não há nada que escape aos desígnios de Deus. Por isso, é importante lembrar-nos que SEMPRE há um propósito divino em nossa enfermidade.
A doença tem um efeito pedagógico. Os maiores ensinamentos não aconteceram em dias de prosperidade e saúde, mas em dias de dor e sofrimento. O grande pregador batista Charles Haddon Spurgeon afirmou que “só há uma benção maior do que a saúde: a enfermidade. Pois a enfermidade tem sido um instrumento poderoso para aperfeiçoar o servo de Deus”. Nenhum sofrimento é em vão. Todos eles obedecem aos decretos de Deus.
O apóstolo Paulo tinha pleno discernimento que suas cadeias, embora humanamente insuportáveis, estavam em concordância com os propósitos de Deus. Ele afirma: “Quero ainda, irmãos, cientificar-vos de que as cousas que me aconteceram têm, antes, contribuído para o progresso do Evangelho; de maneira que as minhas cadeias, em Cristo, se tornaram conhecidas de toda a guarda pretoriana e de todos os demais; e a maioria dos irmãos, estimulados no Senhor por minhas algemas, ousam falar com mais desassombro a Palavra de Deus” (Fp 1:12,13).
Portanto, refugie-se na Soberania de Deus e descanse sob a promessa de que as coisas que te aconteceram estão contribuindo para estabelecer os planos de Deus em sua vida.


5 – Deus nos conforta nas nossas enfermidades

Sempre quando oramos por cura esperamos receber o pleito de nossa petição. Entretanto, nem sempre Deus irá nos responder de acordo com nossas expectativas. No caso do apóstolo Paulo, a resposta que veio de Deus não era a que ele esperava nem a que ele queria, mas a que ele precisava (2 Co 12:9).
Muitas vezes, Deus não vai remover o sofrimento. Muitas vezes, Deus não irá curar. Não porque Ele não queira e nem você mereça. Mas, antes, porque aquela enfermidade obedecem aos seus propósitos. Contudo, uma certeza todos nós devemos ter: o SENHOR irá nos conceder conforto para suportar e condições para seguir.
Não estamos sozinhos em nossas batalhas. Ele prometeu estar conosco todos os dias, até a consumação dos séculos (Mt 28:20).


6 – A Suficiência da graça de Deus

Deus não deu a Paulo o que ele pediu, Deus deu a ele algo melhor – a graça (v. 9). O salmista declarou que “a tua graça é melhor do que a vida” (Sl 63:3). O Rev. Hernandes diz que a “Graça é a provisão de Deus para cada uma das nossas necessidades”.
No sepultamento do Pr. Gerson (Primeira Igreja Batista de Sobradinho), sua esposa disse: “eu não vou agüentar, eu não vou conseguir”. A sua mãe, que também havia passado pela viuvez, replicou: “Você vai ver, Deus vai te dar forças todos os dias”. A graça de Deus é a provisão diária para nossas carências e deficiências.
Diante da enfermidade, não permita que a sua fé sucumba, mas descanse na maravilhosa provisão da graça de Deus. A graça do SENHOR é suficiente em nossa vida. Estes quatro homens não obtiveram aquilo que pediram, mas receberam de Deus algo mais precioso. Receberam a superabundante graça de Deus!


Rev. Daniel Sampaio Mota