terça-feira, 6 de abril de 2010

O homem que escapou da cruz

O homem que escapou da cruz
Mateus 27:11-26

Introdução
Jesus está diante de um tribunal. Este tribunal é diferente de todos os outros tribunais já forjados na terra. De um lado estão os homens, representando a promotoria cujo papel é acusar. Do outro lado está Jesus, o Deus encarnado, na condição de réu. De um lado estão os homens, pecadores, corruptos e injustos. Do outro lado Deus, santo, onipotente e justo. Este foi o dia na história da humanidade onde os homens julgaram a Deus.
Jesus enfrentou seis julgamentos, sendo três julgamentos na esfera religiosa e três julgamentos na esfera civil.
• 3 julgamentos religiosos:
- Na casa de Anás (ex-sumo sacerdote);
- Na casa de Caifás (sumo sacerdote em exercício);
- No Sinédrio (Conselho de Anciãos – composto por 70 homens).
• 3 julgamentos civis:
- Diante de Pilatos;
- Diante de Herodes;
- Diante de Pilatos.
Em seus seis julgamentos, Jesus foi condenado em todas as instâncias. No tribunal religioso ele foi condenado à pena de morte pelo crime de blasfêmia, por se denominar Filho de Deus, ou seja, intitular-se como Messias. No tribunal civil Jesus foi condenado à pena de morte pelo crime de insurreição e rebelião, por se denominar rei. Diante do tribunal humano, Jesus foi considerado culpado.
Entretanto, existem duas marcas fortíssimas no julgamento de Jesus: ilegalidade e injustiça. Senão, vejamos:
1 - Todos os julgamentos de Jesus aconteceram de madrugada. Jesus foi preso entre duas e três horas da madrugada. Às nove horas da manhã já estava pendurado na cruz, ou seja, em menos de seis horas Jesus já havia passado por seis julgamentos diferentes.
2 – Jesus não teve direito a um advogado. Outro aspecto que merece ser pontuado é o fato que Cristo não teve direito a nenhum advogado, pois já naquela época havia a figura do defensor, amparado inclusive pela lei romana vigente. Nesse sentido, foi-lhe negado o direito ao contraditório e a ampla defesa. A Bíblia afirma que Jesus permaneceu em silêncio diante do seu julgamento. Assim o evangelista Marcos narra o julgamento de Pilatos: “Tornou Pilatos a interrogá-lo: Nada respondes? Vê quantas acusações te fazem! Jesus, porém, não respondeu palavra, a ponto de Pilatos muito se admirar” (Mc 15:4,5).
3 – A sentença baseou-se em falsas testemunhas. O evangelista Marcos registra o depoimento das testemunhas: “E os principais sacerdotes e todo o Sinédrio procuravam algum testemunho contra Jesus para o condenar à morte e não o achavam. Pois muitos testemunhavam falsamente contra Jesus, mas os a depoimentos não eram coerentes” (Mc 14:55,56). O evangelista Mateus é mais enfático ao afirmar a busca dos sacerdotes por testemunhos acusatórios falsos: “Ora, os principais sacerdotes e todo o Sinédrio procuravam algum testemunho falso contra Jesus, a fim de o condenarem à morte” (Mt 26:59).
4 – A condenação veio sem que nada de concreto pudesse ser provado contra ele. No julgamento civil a Bíblia afirma: “Disse Pilatos aos principais sacerdotes e ás multidões: Não vejo neste homem crime algum” (Lc 23:4).
Exatamente neste interstício do julgamento de Jesus que surge uma figura singular. Trata-se de um homem chamado Barrabás. Mas, afinal de contas, quem é Barrabás? Barrabás é um criminoso, assassino, rebelde e agitador. Alguém que queria tomar o poder através da violência. Charles Swindoll diz que a figura contemporânea que mais se aproxime de Barrabás é o terrorista. Barrabás estava na lista dos homens mais procurados do império romano.
A Bíblia afirma que Barrabás foi introduzido no julgamento de Jesus: “Ora, por ocasião da festa, costumava o governador soltar ao povo um dos presos, conforme eles quisessem. Naquela ocasião tinham eles um preso muito conhecido, chamado Barrabás. Estando, pois, o povo reunido, perguntou-lhes Pilatos: A quem quereis que eu vos solte, a Barrabás ou a Jesus, chamado o Cristo” (Mt 27:15-17).
Este é o cenário deste tribunal. De um lado Jesus (Deus, santo, justo, perfeito e puro) e do outro Barrabás (pecador, violento, assassino e rebelde). Mesmo diante da discrepância entre esses dois homens, a Bíblia diz que Jesus foi condenado e Barrabás foi liberto. Cristo foi sentenciado à morte e Barrabás foi absolvido de seus crimes. Jesus iria para a cruz e Barrabás voltaria para casa.
Diante disso, podemos questionar: Por que esse homem escapou da cruz?

I – Porque Jesus tomou o seu lugar (v. 17).
Três homens seriam crucificados naquela sexta-feira: um assassino e dois ladrões, Barrabás e outros dois homens. Aquela cruz do meio estava reservada para Barrabás.
Barrabás estava no corredor da morte, esperando apenas a execução da sua sentença. Portanto, Barrabás sabia que a cruz do meio era para ele. Aqueles cravos eram para ele. Aquele sofrimento estava reservado para ele.
Na teologia há o que chamamos de tipologia, ou seja, algo que simbolizava ou tipificava algo maior. Por exemplo, o reino de Davi tipificava o reino do Messias que seria estabelecido; Gênesis 22, quando Deus pede para Abraão sacrificar seu único filho Isaque, é uma tipologia do que Deus haveria de fazer com seu único filho; quando Oséias casa com uma prostituta o propósito é mostrar ao povo o adultério espiritual que a nação estava vivendo.
Sendo assim, neste texto Barrabás tipifica alguém: você! O que Cristo fez por Barrabás morrendo em seu lugar, foi exatamento o que Ele fez por nós: morreu no nosso lugar. Aquela cruz do meio era minha. Aquela cruz do meio era sua. Jesus ao invés de Barrabás significa Cristo ao invés de nós.
Deus não seria injusto se mandasse todos nós para o inferno. Na verdade, ele estaria exercendo sua justiça. Nós não merecemos ir para o céu. Nada do que você faça pode te levar para o céu. Por mais que você tente, por mais que você se esforce. A salvação não é alcançada por aquilo que fazemos, mas por aquilo que Cristo fez. Isso chama-se graça. Calvino chamou isso de Graça Irresistível. Charles Swindoll disse que “Deus construiu uma estrada para o céu. Esse caminho foi pavimentado com o sangue de Cristo”.

II – A morte de Jesus garantiu a sua liberdade (v. 26)
Páscoa significa libertação. A festa da Páscoa foi instituída para comemorar a libertação do povo do Egito (Êxodo 12). Não tem nenhuma ligação com coelho ou ovos de chocolate. Na noite que antecedeu a libertação do povo, Deus mandou a última praga: a morte dos Primogênitos. O povo de Deus deveria entrar em suas casas, sacrificar um cordeiro tomar o sangue do animal e aspergir sobre os umbrais e sobre as portas. Naquela mesma noite o anjo da morte iria passar por sobre a terra do Egito e ceifar a vida de todos os primogênitos, com exceção daqueles que estivessem nas casas marcadas pelo sangue do cordeiro morto na noite pascal. Assim diz a Bíblia: “O sangue vos servirá por sinal nas casas...” (Ex 12:13). A morte do cordeiro pascal garantiu a vida e a libertação do povo no Egito.
Por semelhante modo, o derramamento do sangue de Cristo, o cordeiro de Deus, garantiu a liberdade de Bartimeu. Jesus foi sentenciado para que ele pudesse alcançar a anistia. O apóstolo Paulo afirma que “Para liberdade foi que Cristo nos libertou” (Gl 5:1).

Conclusão
No ano de 2005 a revista Superinteressante publicou uma matéria com o seguinte título: Quem matou Jesus? No decorrer da matéria, os autores traziam cinco teses diferentes:
1 – os romanos;
2 – os judeus;
3 – a multidão insensata;
4 – os líderes judaicos que manipularam a multidão;
5 – Pilatos.
Biblicamente, todas estas respostas estão erradas. Conquanto, todas essas pessoas tenham tido participação na execução de Cristo, nenhuma delas pode ser responsabilizada individualmente. Segundo o ensino das Escrituras, somente uma pessoa pode ser declarada culpada pela morte de Jesus: você! Ele morreu por sua causa. Você é o grande motivo da morte de Jesus.
Rev. Daniel Sampaio Mota

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Um Evangelho para todos

Um Evangelho para todos
Lucas 18:35-43; 19:1-10
O Evangelho é uma mensagem universal. Não pertence a um grupo seleto de pessoas. Não é uma herança étnica ou cultural. Conquanto o Evangelho tenha suas raízes na nação de Israel, o propósito de Deus nunca foi que a mensagem das boas-novas da salvação ficasse enclausurada a um povo. Quando Deus chamou o patriarca Abraão, deixou claro que sua intenção era, a partir dele, abençoar todas as famílias da Terra, como segue a narrativa do texto sagrado: “Em ti serão benditas todas as famílias da Terra” (Gn 12:3). O apóstolo Paulo confirmou a Timóteo que o SENHOR “deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade” (1 Tm 2:4).
A passagem em questão nos remete a dois eventos que aconteceram na mesma cidade. Trata-se de dois homens que residiam em Jericó: Bartimeu e Zaqueu. Um, Jesus encontrou na entrada da cidade (Lc 18:35); o outro, Jesus encontrou no centro da cidade (Lc 19:1). Bartimeu era um homem pobre, mendigo e cego. Zaqueu era um homem rico, abastado, funcionário público (publicano, fiscal da receita). Enquanto Bartimeu vivia do lado de fora da cidade, Zaqueu vivia luxuosamente na parte mais requintada de Jericó.
Bartimeu era um homem muito conhecido em Jericó por causa do seu infortúnio. Zaqueu era conhecido em Jerico por sua riqueza. Dois homens completamente diferentes, mas com muita coisa em comum. Ambos carentes da graça de Deus. Bartimeu vive à margem da sociedade. É um homem infeliz por causa de sua condição de miserabilidade. Zaqueu pertence às mais altas camadas da sociedade. Um homem que fez fortuna, fez riqueza, mas alguém, igualmente, infeliz. Em suma: um é triste em sua pobreza; o outro é triste mesmo apesar da sua riqueza.
Zaqueu e Bartimeu representam um protótipo da sociedade pós-moderna. Tipificam o paradoxo e a discrepância social. Uma mesma cidade abriga ricos e pobres. A pobreza e a riqueza convivem lado a lado; onde a riqueza, que se concentra nas mãos de um grupo pequeno, é construída a partir da pobreza de uma maioria. Bartimeu tipifica a figura do explorado e Zaqueu do explorador. Bartimeu simboliza o oprimido e Zaque o opressor. Esses personagens são engrenagens de uma mesma máquina social. Encontramos aqui a gênese do capitalismo.
Outra semelhança entre esses dois homens diz respeito ao encontro que ambos tiveram com Jesus e nos dois casos a multidão aparece como um obstáculo para ambos (18:39; 19:3). Contudo, esse acontecimento na cidade de Jericó marca a vida desses homens. A partir da experiência de Bartimeu e Zaqueu, vemos que as portas do Evangelho estão abertas para todos os homens.

1 – Ambos, independentemente de sua condição, carecem de Deus (18:38; 19:4).

A Bíblia confirma que Bartimeu se utilizava de uma capa no seu trabalho de mendicância. Os biblistas afirmam que aquela capa lhe fora dada pelas autoridades romanas e funcionava como uma espécie de licença para esmolar. Em outras palavras, Bartimeu é um pedinte regulamentado pelo Estado – uma política social sectária. Por outro lado, Zaqueu era maioral dos publicanos. Colhia os dividendos da injustiça social. Sua riqueza era sustentada a partir da pobreza de outros.
Do ponto de vista social estes homens são completamente diferentes. Do ponto de vista espiritual a situação deles é idêntica. Em termos de salvação não há nada que seu dinheiro passa fazer por você! Um é pobre e está perdido. O outro é rico e está igualmente perdido.
Todos Necessitam da graça de Deus. Se você é rico, está perdido! Se você é pobre, está perdido! Alguém já disse que existe um lugar onde somos todos iguais: no caixão. A morte é implacável e não respeita condição social. Absolutamente todos terão que enfrentá-la e, portanto, carecemos da graça de Deus.

2 – Ambos recebem de Jesus a mesma atenção (18:40; 19:5)

Vivemos em uma sociedade onde você vale aquilo que você tem. Você vale o carro que possui. A maneira como você se veste determinará a maneira como as pessoas tratarão você. Entretanto, esse não é o tratamento que Jesus dava às pessoas. A mesma atenção dada ao rico foi dada ao pobre. Jesus não tem predileções. O tratamento de Deus é igual para todos. Nos dois casos, Jesus está caminhando com uma multidão de discípulos. E, em ambos os casos, Jesus pára para atender os dois homens.

3 – Ambos são curados (18:41,42; 19:8)

Bartimeu é curado de uma enfermidade física – cegueira.
Zaqueu é curado de uma enfermidade espiritual – avareza.



4 – Ambos são salvos (18:43; 19:9)

O texto sagrado deixa duas informações preciosas que apontam para a conversão destes dois homens. Quanto a Bartimeu, a bíblia diz: “Imediatamente, tornou a ver e seguia-o glorificando a Deus” (18:43, grifo meu). Aquele que antes estava à beira do caminho agora encontra-se no Caminho. Semelhantemente, a Escritura registra a confissão de fé de Zaqueu: “SENHOR, resolvo dar aos pobres a metade dos meus bens; e, se nalguma cousa tenho defraudado alguém, restituo quatro vezes mais” (19:8). O evangelista Lucas registra que, diante de tão grande prova de conversão, Jesus exclama: “Hoje, houve salvação nesta casa” (19:9).

CONCLUSÃO
A presença de Jesus na cidade de Jericó tem um significado histórico e espiritual. A cidade de Jericó foi a primeira grande cidade a ser destruída e conquistada por Josué na tomada da Terra Prometida. Havia uma grande muralha que protegia aquela cidade de seus inimigos. Quando as muralhas, milagrosamente, vieram a baixo, Josué pronunciou uma maldição: “Maldito diante do SENHOR seja o homem que levantar e reedificar esta cidade de Jericó: com a perda do seu primogênito a fundará, e com a perda do seu filho mais novo lhe colocará as portas” (Js 6:26).
Contudo, não atendendo à Palavra de Deus, durante o reinado do perverso rei Acabe, Jericó foi reconstruída (I Reis 16:34). A reconstrução da cidade aconteceu com o consentimento do rei através de Hiel. Conforme a palavra de Josué, ao lançar os fundamentos da cidade perdeu seu primogênito, e, quando assentou as portas, perdeu seu filho caçula.
Este fato é importantíssimo de ser considerado. O muro simboliza a separação. Portanto, quando Jesus dirigi-se à cidade de Jericó, ele atende a Bartimeu que está fora dos muros e a Zaqueu que está dentro dos muros. Pois em Cristo, os muros simplesmente não existem.
Antes de Cristo havia uma separação entre Deus e o homem, e entre o homem e seu próximo. A construção daquele muro custou morte do primogênito de Hiel. A derrubada dos muros que nos separavam de Deus e de nossos semelhantes custou a vida do Unigênito Filho de Deus. O apóstolo Paulo confirma essa verdade, ao afirmar: “Mas, agora, em Cristo, Jesus, vós, que antes estáveis longe, fostes aproximados pelo sangue de Cristo. Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos fez um; e, tendo derribado a parede da separação que estava no meio, a inimizade, aboliu, na sua carne, a lei dos mandamentos na forma de ordenanças, para que dos dois criasse, em si mesmo, um novo homem, fazendo a paz, e reconciliasse ambos em um só corpo com Deus, por intermédio da cruz, destruindo por ela a inimizade. E, vindo, evangelizou paz a vós outros que estáveis longe e paz também aos que estavam perto; porque, por ele, ambos temos acesso ao Pai em um Espírito” (Ef. 2:13-18, grifo meu).
Sendo assim, em Cristo, todos os muros ruíram. O véu do templo se rasgou. Já não há mais nenhum obstáculo que nos impeça a entrarmos na presença de Jesus.
Rev. Daniel Sampaio Mota