quinta-feira, 27 de setembro de 2012

O Sofrimento como uma benção de Deus


O sofrimento como uma benção de Deus

II Coríntios 4:7-18

 

É proibido sofrer! Esse é o moto da igreja pós-moderna. Fala-se muito sobre vitória, benção, milagre, cura e prosperidade. Uma geração que aprendeu a profetizar, fazer correntes, lançar mão de métodos para alcançar e manipular a benção de Deus. Uma geração que associa a benção de Deus com prosperidade e riqueza. Uma geração que aprendeu a reivindicar, declarar, liberar e amarrar. O Deus Todo-Poderoso foi transformado num garçom cujo único trabalho é servir o homem, satisfazendo-lhes os anseios e desejos. Diante disso, o cristianismo atual propõe um evangelho sem cruz, sem sofrimento. Um cristianismo bem diferente daquele apresentado nas Escrituras.

Mas, e quando Deus decide não curar? E quando Deus decide não fazer o milagre? E quando Deus decide não prosperar? Há uma outra face do cristianismo que os pregadores da televisão não anunciaram. Aliás, a pregação do evangelho realizada em rádio e televisão não é o evangelho verdadeiro, mas uma caricatura dele. Um evangelho fácil, barato, extremamente atraente e que faz sucesso num país de economia emergente.  Temos forjado uma religiosidade rasa, sem conteúdo, desprovida de profundidade. A nossa religiosidade é funda como um pirex, marcada por uma pobreza espiritual. Nas palavras de J. I. Packer, nosso cristianismo tem 15 km de extensão, mas poucos centímetros de profundidade. Conforme afirmou Dietrich Bonhoeffer, baratearam o Evangelho de Cristo que foi conquistado por um alto preço. A graça que é graça não foi barata.

A Igreja contemporânea construiu uma teologia antibíblica, uma teologia onde não há espaço para o sofrimento. Daí, temos a tendência de associar o sofrimento a duas matrizes: o sofrimento como consequência direta do pecado ou o como um ato punitivo de Deus. Por isso, é preciso reler os versículos não grifados da Bíblia. Aqueles que revelam uma faceta que não gostamos, a saber, que o cristianismo não é um passaporte para a felicidade, mas uma jornada de muitas aflições. O sofrimento não é uma possibilidade, mas uma certeza. À propósito, não podemos nos esquecer que Jesus é apresentado nas páginas da Escritura como o Servo Sofredor (Isaías 53).

               Então, nós precisamos compreender algumas verdades bíblicas acerca do sofrimento:

I – O sofrimento como uma contingência humana. A Bíblia diz que “tudo sucede igualmente a todos: o mesmo sucede ao justo e ao perverso...” (Ec. 9:2). Jesus disse: “No mundo tereis aflições...” (Jo 16:33). Está posto diante de nós uma realidade: o sofrimento faz parte da nossa condição como humanos. Sendo assim, não é admissível pensar que o justo será poupado do sofrimento pelo simples fato de crer em Deus. Pelo contrário, a Bíblia é categórica ao afirmar que “tudo sucede igualmente a todos”. Desta forma, o ímpio quebra a perna, o justo também quebra a perna. O ímpio bate o carro, o justo também bate o carro. O ímpio perde o emprego, o justo também fica desempregado. É um ato de extrema arrogância e petulância a oração feita por muitos cristãos quando dizem: “Deus, eu não aceito essa situação!” ou “eu reivindico as tuas bênçãos e amarro esse problema em nome de Jesus!”. Jesus nunca nos ensinou a orar desta forma. De acordo com os Pais da Igreja, não devemos orar pedindo o alívio do fardo, mas rogar por ombros mais fortes. 

2 – O Sofrimento faz parte da caminhada cristã. Jesus foi claro e sincero com todos aqueles que desejaram segui-lo. Ele nos alertou quanto ao caminho estreito. Disse aos seus seguidores: “As raposas tem seus covis, e as aves do céu, ninhos; mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça” (Mt 8:20). O apóstolo Paulo também não escondeu dos cristãos primitivos que “todos quantos querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos” (II Tm 3:12). O salmista registrou ainda que “muitas são as aflições do justo...” (Sl 34:19). Como se pode notar, o sofrimento faz parte da caminhada cristão. Então, o crente não deve evitar o sofrimento a todo custo, mas perceber que há um propósito divino no sofrimento.

            Diante do exposto, quero convidá-lo para, a partir do texto de II Coríntios 4:7-8, construirmos juntos uma teologia do sofrimento. Esse é um texto que nos leva a encarar o sofrimento não como um mal em si mesmo, mas como algo que nos traz muitos benefícios. Portanto, ao invés de evitar o sofrimento e tentar fugir de todas as formas dele, o cristão deve perceber que o sofrimento é algo bom e proveitoso. Sendo assim, vamos refletir sobre AS BENÇÃOS DO SOFRIMENTO.

 

1ª Benção do sofrimento: O sofrimento revela a nossa natureza.

Paulo usa a expressão “vasos de barro” para fazer uma alusão à nossa fragilidade. Temos aqui uma referência direta ao texto de Gn 2:7, que diz: ““Então, formou o Senhor Deus ao homem do pó da terra e lhe soprou nas narinas fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente”. O apóstolo nos leva a refletir sobre nossa forma fraca, mortal, humilde e simples. Desta forma, o sofrimento nos faz lembrar da nossa natureza.

O mundo busca atributos como força e poder. O homem tenta subjugar o mundo e a natureza. Vivemos na era dos super-heróis e também dos super-crentes. Homens dotados de um suposto poder espiritual, imunes a tudo. No entanto, o texto afirma: “temos porém este tesouro em vasos de barro”. C. S. Lewis afirmou que “o sofrimento é o megafone de Deus para despertar um mundo ensurdecido”. Quando o sofrimento chega, percebemos que não somos tão fortes quanto pensávamos, não somos tão bons como achávamos.

Portanto, o sofrimento é uma benção porque revela a nossa natureza e nos mantém humildes diante de Deus. Paulo dá o seu próprio testemunho pessoal quando afirma: “E para que eu não me ensoberbecesse com a grandeza das revelações, foi-me posto um espinho na carne, mensageiro de Satanás, para me esbofetear, a fim de que eu não me exalte” (II Co 12:7).

 

2ª Benção do Sofrimento: o sofrimento é uma escola.

As maiores lições da nossa vida nós aprendemos em dias de dor. A vida é a mais implacável das professoras. Na escola comum, primeiro a gente aprende a lição e depois somos submetidos à prova. Na vida acontece o inverso, primeiro passamos pela prova e só depois aprendemos a lição.

O sofrimento é a escola em que todos cristão está matriculado. O salmo 119:71 declara: “Foi-me bom ter eu passado pela aflição, para que aprendesse os teus decretos”. Spurgeon, comentando esse versículo, declara: “Mui pouco se tem a aprender sem aflição. Para sermos bons alunos, temos de ser bons sofredores. Como dizem os latinos: a experiência ensina. Os mandamentos de Deus são melhor lidos por olhos úmidos de lágrimas”. E acrescenta: “Aqueles que mergulham no mar das aflições trazem pérolas raras para cima”.

A bíblia diz que até Jesus não foi poupado da escola do sofrimento. O autor de Hebreus registra: “Embora sendo Filho, aprendeu a obediência pelas coisas que sofreu” (Hb. 5:8). Como diz em outra versão: “Apesar de ser filho, ele aprendeu a obediência na escola do sofrimento”. Sabe o que é triste de ver? Um cristão que passa por uma provação e não aprende nada. Augustu Cury disse: “Ou o sofrimento nos constrói o nos destrói”. O que o sofrimento está fazendo com você? Está te construindo ou te destruindo?

 

3ª Benção do Sofrimento: o sofrimento nos leva a reavaliar nossa vida

Muitos sofrimentos que experimentamos são consequências diretas de nossos erros. Escolhas erradas, decisões equivocadas e posturas inapropriadas, ou seja, grande parte de nossas dores são desdobramentos de nossas escolhas. Isso deve nos remeter uma avaliação existencialista. Sócrates dizia que “uma vida sem análise não merece ser vivida”. O sofrimento nos amadurece, nos faz crescer.  

Sofrimento não é sinônimo de ausência de Deus. A dor não é um sinal que Deus te abandonou; pelo contrário. Paulo diz: “Em tudo somos atribulados, porém não angustiados; perplexos, porém não desanimados, perseguidos, porém não desamparados; abatidos, porém não destruídos” (II Co 4:8-9).

 

4ª Benção do Sofrimento: o sofrimento nos aproxima de Deus

            Muitos cristãos levam sua vida espiritual de qualquer maneira. Não leem a Bíblia, não oram, não vão à Igreja. Vivem afastados de Deus (embora conservem em seus corações o temor do Senhor). Em dias de bonança e fartura se esquecem de Deus. Então, quando o sofrimento bate à sua porta, aquele que vivia uma vida relapsa passa a buscar o Senhor com sinceridade e intensidade. Infelizmente, muitos cristãos só andam na linha quando o peso do chicote o ameaça. Meu irmão, se a única maneira de Jesus manter você pertinho dele é através do sofrimento, então prepara o “lombo”! Quando passamos pela provação arranjamos tempo para orar, ler a Bíblia, não faltamos aos cultos e até nos consagramos através do jejum.

            O sofrimento é uma benção porque nos faz parar (em meio a um ritmo frenético) e ouvir a voz de Deus. Quando a angústia nos alcança, somos conduzidos ao Altar do Senhor, em humildade, dependência e quebrantamento. Nossa relação com o Eterno se estreita e passamos a confiar menos em nós e mais nEle. A nossa fé se agiganta e nossa confiança em sua Palavra fica mais robusta.

 

5ª Benção do Sofrimento: O sofrimento põe os nossos olhos na eternidade.

            O apóstolo nos faz perceber que o sofrimento tira os nossos olhos da terra e os põe no céu. Ele afirma: “não atentando nós nas cousas que se vêem, mas nas que se não vêem; porque as que se vêem são temporais, e as que não se vêem são eternas” (v. 18). Quando estamos em meio ao sofrimento, pensamos menos em nós e mais no Reino. Somos levados a refletir mais eternidade. Percebemos que a nossa vida aqui é transitória e quão tola é a nossa gana de ajuntar tesouros nessa Terra. É por isso que autor de Eclesiastes afirma que é melhor estar numa casa onde há um funeral a estar numa casa onde há festa (Ec 7:2).

            Então, não despreze o seu sofrimento. Não tente evita-lo. Antes, utilize-o como um trilho quer irá conduzi-lo rumo ao crescimento espiritual, maturidade cristã, experiências com Deus e maior intimidade com o Senhor. Lembre-se que “todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus” (Rm 8:28), até mesmo o sofrimento tem um fim benéfico e proveitoso. De acordo com os propósito de Deus, até o sofrimento é uma benção!

 

Rev. Daniel Sampaio Mota

8 comentários:

  1. Uma mensagem para cristãos amadurecidos. Parabéns e que Deus continue abençoando seu ministério!

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  2. Meu nome é António Batalha, estive a ver e ler algumas coisas de seu blog, achei-o muito bom,dou-lhe os parabéns, espero vir aqui mais vezes. Meu desejo é que continue a fazer sempre o seu melhor, dando-nos boas mensagens.
    Tenho um blog Peregrino e servo, se desejar visitar ia deixar-me muito honrado.
    Ps. Se desejar seguir meu blog será uma honra ter voce entre meus amigos virtuais,mas gostaria que não se sinta constrangido a seguir, mas faça-o apenas se desejar, decerto irei retribuir com muito prazer. Siga de forma que possa encontrar o seu blog.
    Deixo a minha benção e muita paz e saúde.

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  3. Faço parte da Igreja de Cristo a menos de dois anos e sinto que o chamado de Deus na minha vida é para proclamar o evangelho de Jesus Cristo com essa linha de pensamento, sou grato a Deus pelo que Ele tem feito em minha vida, e continuarei a buscar ao Senhor e proclamar as Boas Novas em meio ao sofrimento, que Deus te abençoe meu irmão.

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  4. Nos dias de Cristo, muitos escribas e fariseus estudiosos nao entenderam o carater do Reino de Deus (que estava entre eles), pelo fato dele nao ter vindo com aparencia exterior.
    Da mesma forma, me parece que, nos tempos presentes, milhoes de crentes ainda nao conseguiram alcançar a sublimidade e a sutileza desse REINO.
    Talvez por causa disso é que tem surgido teologias estranhas às Escrituras Sagradas, tais como a Teologia da Missao Integral, a Teologia da Prosperidade e o Dispensacionalismo, os quais tratam de um reino neste e deste mundo (com aparencia exterior).
    Tenho visto que, ainda que muitos leiam, na Biblia, a afirmaçao de que os crentes jà foram feitos REIS E SACERDOTES e que, juntamente com Cristo, exercem juizo sobre as naçoes, com a vara de ferro de suas bocas (Sl 2:8-9, Ap 2:27 e Ap 12:5), ainda assim grande parte procura, de uma forma ou de outra, agarrar-se a uma possibilidade de evitar qualquer tipo de sofrimento e de nao passar pela morte, como se tais situaçoes significassem derrota.
    Ou seja, apesar de uma tao grande nuvem de testemunhas de pessoas que perderam suas vidas por amor à Palavra de Deus, os crentes, dando lugar à carne, relutam em agarrar-se em algo aparente, como que querendo uma certa gloria deste mundo.
    Finalizo minha fala, lembrando as Palavras do Mestre: “Ele, porém, voltando-se, disse a Pedro: Para trás de mim, Satanás, que me serves de escândalo; porque não compreendes as coisas que são de Deus, mas só as que são dos homens” (Mt 16:23).

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  5. Apenas para complementar meu comentario anterior, no qual citei que os crentes julgam, em vida, as naçoes, seguem alguns esclarecimentos:
    Dentro da clara percepçao de que o Reino de Deus nao é deste mundo, ou seja, nao pode ser entendido pela mente natural, mas somente por aqueles que possuem a mente de Cristo, parece ficar claro que:
    1 - Quando a Biblia diz: “...agora é o juizo deste mundo” (Jo 12:31), Ela parece estar dizendo que, atraves da pregaçao do Evangelho, o diabo, a partir do ministerio de Jesus Cristo, vem sendo, paulatinamente, expulso das suas velhas habitaçoes (os coraçoes dos homens).
    2 - A partir de Cristo, aquele que acredita na mensagem do Evangelho tem os seus olhos abertos e se converte do poder de Satanás a Deus, tornando-se um templo do Espirito Santo (At 26:18); em contrapartida, aquele que nao acredita, por sua vez, recebe a condenaçao eterna, pois amou mais as trevas do que a luz (Jo 3:18-19).
    Com isso, a expressao simbolica “...e vi tronos e se assentaram a quem foi dado o poder de julgar” (Ap 20:4) parece estar falando, mais propriamente, do tempo presente, quando, em vida, os santos foram feitos reis e sacerdotes, e, como tal, jà reinam sobre a terra com vara de ferro, ou seja, pela Palavra de Deus (Ap 5:9-10).
    Alem de reinar, os santos, como corpo de Cristo e ministros do Evangelho, tambem participam do juizo citado em Jo 12:31.
    Dessa forma, seguindo o raciocinio (de um reino que nao vem com aperencia exterior), o pensamento acima parece ser a melhor interpretaçao de Ap 20:4, sendo improvavel a existencia de uma entidade fora do corpo (espirito desencarnado) que, supostamente, estaria reinando no ceu.
    Nem mesmo podemos crer que seria possivel haver, literalmente, espiritos desencarnados que estariam clamando debaixo do altar de Deus, os quais, entre outras coisas, terminam por receber vestes brancas (Ap 6:10), como se espirito desencarnado necessitasse de vestimenta.
    Paz!!!

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    1. Amei ler os seus sermoes parabéns que Deus continue usando sempre a sua mente com sabedoria .pr.Gildásio

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