quinta-feira, 23 de abril de 2009

Um exemplo a não ser seguido

Um exemplo a não ser seguido

“Os pecados da liderança são mais graves, mais hipócritas e mais danosos. Mais graves porque o líder peca contra o maior conhecimento. Mais hipócrita porque o líder denúncia o pecado em público e o comete em secreto. E mais danosos porque o líder quando cai sempre conduz outros a queda”
(Richard Baxter, século XVII).

A família de Eli é um exemplo de uma família que tinha tudo para dar certo, mas desintegrou-se. Eli era um homem respeitadíssimo nos seus dias. Era sacerdote e juiz de Israel. Ocupava duas posições da mais alta relevância. Como sacerdote ele era o líder espiritual do seu povo. Como juiz ele era o líder político da nação. Seus filhos tinham tudo para ser uma benção. Contudo, a Bíblia diz que eles eram uma maldição.
Esse homem foi um sucesso no seu trabalho, mas uma tragédia como pai. Esse homem era um colosso como líder de Israel, mas negligente com suas principais ovelhas – sua própria família. E há algo muito importante que deve ser examinado na vida de Eli. Ao nos depararmos com as duas severas admoestações que Deus faz ao sacerdote, o SENHOR não está advertindo-o por algo que ele tenha feito. Antes, Deus está exortando-o por algo que ele não fez (2:29; 3:13). Assim sendo, pode-se concluir que o pecado de Eli era a omissão.

Nós daremos conta diante de Deus não apenas por aquilo que fazemos, mas, também por aquilo que deixamos de fazer. O apóstolo Tiago nos advertiu: “Aquele, pois, que sabe fazer o bem e não o fez, comete pecado” (Tg 4:17). Portanto, quando você sabe da necessidade de um irmão e, por conseguinte, tendo condições de sanar o problema do referido irmão, você se omite, tal postura configura um pecado. Outro texto que merece nossa atenção diz respeito a Mateus 25:14-30. Na parábola dos talentos, qual o motivo da ira do SENHOR sobre aquele que enterrou o seu talento? Ele fez alguma coisa? O contrário! A ira do SENHOR justifica-se exatamente porque ele deixou de fazer. Quando você tem um dom dado por Deus (seja cantar, servir, contribuir, etc.) e você não o usa para a glória de Deus, nisso você está pecando.
O padre Antônio Vieira, um dos maiores paladinos da evangelização no Brasil, disse que “omissão é o pecado que se faz não fazendo”. No direito, omissão é a conduta pela qual uma pessoa não faz algo a que seria obrigada a fazer dada a circunstância. No direito Penal, a omissão constitui um crime passivo de pena. (ex.: omissão de socorro). Se na esfera humana a omissão representa um crime, imagine o que ela representa na esfera espiritual. Se para os homens a omissão é algo inaceitável, o que dirá para Deus.
A história de Eli ganha fôlego em muitos lares evangélicos. É notório o drama que muitos pais cristãos enfrentam com seus filhos. Enquanto eles estão no templo, os filhos estão no mundo. Enquanto os pais buscam a Deus, os filhos buscam a satisfação de seus próprios prazeres nos banquetes promovidos por satanás. Os números confirmam ainda mais essa realidade. Uma pesquisa realizada recentemente no CAJE constatou que 70% dos jovens e adolescentes que estão ali cumprindo medidas sócio-educativas são oriundos de lares cristãos. Nesse sentido, a vida de Eli torna-se um modelo de pai a não ser seguido. A Bíblia está repleta de exemplos. Exemplos bons e maus. Exemplos a serem seguidos e exemplos a serem rejeitados. Assim, a vida de Eli torna-se o modelo de um pai que não devemos ser.

1 – Eli cuidava dos outros, mas não cuidava da sua própria família
“Ora, se alguém não tem cuidado dos seus e especialmente dos da própria casa, tem negado a fé e é pior do que o descrente” (I Tm 5:8).
Eli era um especialista em resolver problemas. Os dois cargos que ele exercia fez dele um perito nessa área. Como juiz, ele se ocupava em resolver litígios, brigas e demandas sociais. Como sacerdote, ele se ocupava em resolver problemas de outra esfera, ou seja, problemas da ordem espiritual. Assim, ele era um homem que sabia exatamente o caminho para a solução. Afinal, seu dia inteiro era dedicado a cuidar dos interesses de outras pessoas. Entretanto, Eli foi incapaz de resolver o maior de todos os problemas. Enquanto ele cuidava dos outros, a sua família foi esquecida. Enquanto todas as suas energias eram dispensadas em resolver problemas alheios, um enorme problema eclodiu no seu lar. O sacerdote Eli pastoreava todos, menos sua própria família.
A crise vivida por muitos adolescentes justifica-se porque ele passou a infância inteira acreditando que o pai era um herói e quando chegou à idade da razão descobriu que o pai não era nada daquilo que ele imaginava ser. Você precisa continuar sendo um herói para o seu filho. O seu filho, mesmo após crescer, precisa continuar vendo em você um referencial de vida. Hoje há uma crise de referenciais. Inúmeros jovens ou mesmo adolescentes quando são indagados acerca de casamento, prontamente, respondem: “Eu não quero casar para ser infeliz como os meus pais!”. Essa é uma triste realidade. A própria casa tornou-se uma referência negativa.
O contrário também é verdadeiro. Conheci uma moça que iria se casar e, por conta disso, sua mãe havia se disposto a dar-lhe uma série de conselhos e recomendações. Ao final da conversa, após ouvir atentamente cada palavra que sua mãe lhe dissera, a moça disse: “Mãe, se eu for pelo menos metade da mulher que a senhor foi, tenho certeza que minha felicidade está garantida!”. Aquela senhora era um modelo para sua filha. Era mais que uma mãe, era um exemplo de esposa, de educadora, de conciliadora e, sobretudo, um exemplo de mulher.
O maior presente que você pode dar ao seu filho é amar a mãe dele. Não há nada que afete mais significativamente uma criança do que um ambiente permeado por amor e afeto.

2 – Eli era famoso fora dos portões, mas não tinha autoridade dentro de casa
Era admirado pelas pessoas de fora, mas não era admirado pelos seus filhos. Era um líder descomunal no seu trabalho, mas alguém sem nenhum prestígio dentro de casa.
Essa era a mesma frustração vivida pelo grande general de guerra Naamã. Assim a Bíblia registra: “Naamã, comandante do exército do rei da Síria, era grande homem, diante do seu senhor e de muito conceito, porque por ele o SENHOR dava vitória à Síria; era ele herói de guerra, porém leproso” (II Reis 5:1). Na rua Naamã era visto como um guerreiro vencedor, vestindo a sua indumentária de herói, uma armadura típica de um general. Alguém imponente, respeitado e admirado pelos de fora. Mas dentro de casa, quando tirava a sua capa, despido de sua armadura, não passava de um leproso.


3 – Eli havia se acostumado com o sagrado

“E, tu, por que honras a teus filhos mais do que a mim, para tu e eles vos engordardes das melhores de todas as ofertas do meu povo de Israel?” (2:29).
Para entendermos melhor o significado desse texto, é preciso que recorramos ao funcionamento do serviço prestado pelo sacerdote ao povo. Primeiramente, devemos considerar que os sacerdotes viviam do serviço sacerdotal. Assim, parte das ofertas trazidas pelo povo eram destinadas a subsistência dos próprios sacerdotes. Entretanto, a Bíblia diz que os filhos de Eli haviam ignorado essa ordenança e estavam profanando o altar do SENHOR, pois eles se apropriavam daquilo que não era deles, mas do SENHOR (2:12-17). E por que eles faziam isso? Diz a Bíblia que eles “não se importavam com o SENHOR” (v. 12). Em um vocabulário mais popular, eles não davam a mínima para Deus.
Há ainda um texto que devemos considerar. O profeta Oséias foi levantado por Deus para advertir o povo acerca da sua transgressão. Contudo, há uma forte admoestação de Deus para os seus sacerdotes. Senão, vejamos: “O meu povo está sendo destruído, porque lhe falta o conhecimento. Porque tu, sacerdote, rejeitaste o conhecimento, também eu te rejeitarei, para que não sejas sacerdote diante de mim; visto que esqueceste da lei do teu Deus, também eu me esquecerei de teus filhos. Quanto mais estes se multiplicaram, tanto mais contra mim pecara; eu mudarei a sua honra em vergonha. Alimenta-se do pecado do meu povo e da maldade dele têm desejo ardente. Por isso, como é o povo, assim é o sacerdote; castigá-lo-ei pelo seu procedimento e lhe darei o pago das suas obras” (Oséias 4:6-9).
A tendência de muitos cristãos é parar na primeira sentença do versículo 6. Entretanto, a chave hermenêutica para entendermos o real significado de tal afirmação está nos versos seguintes. Por que o povo estava sendo destruído? A resposta é clara: por falta de conhecimento. Outra pergunta deve ser feita: Qual a única maneira de se remir um pecado no Antigo Testamento? Através do sacrifício de animais, ou seja, através de uma oferta pelo pecado. Por isso, o sacerdote era um grande interessado no pecado do povo, pois quanto mais o povo pecava, mais sacrifícios haveria. E, havendo mais sacrifícios, mais ele ganhava. Essa era a dinâmica que havia se instituído no templo na época do profeta Oséias. Por isso Deus diz: “Alimentam-se do pecado do meu povo”. O pecado havia se tornado uma fonte de lucro.
Esse era exatamente o drama que envolvia Hofni e Finéias. O pecado do povo havia se tornado a fonte de lucro para eles. A Bíblia registra que o próprio Deus disse a Samuel que eles “se fizeram execráveis” (v. 13). A palavra execrável é sinônima da palavra abominável. Perderam completamente a sensibilidade. Suas mentes estavam cauterizadas. Estavam no templo, mas estavam desviados. Estavam diante do altar, mas com o coração longe de Deus. Estavam fazendo a obra de Deus, mas mergulhados na lama do pecado. Para Deus, ser é mais importante do que fazer. Deus não está preocupado com o que você faz, mas, sobretudo, com quem você é.
Não há perigo maior do que esse! Acostumarmo-nos com as coisas de Deus. Vir ao culto já não é mais empolgante, ler a Bíblia já não é mais empolgante, orar já não é mais empolgante. Banalização daquilo que é santo. É a própria secularização do divino.

4 – Eli aceitou passivamente a decretação da derrota em sua família.
“Então, Samuel lhe referiu tudo e nada lhe encobriu. E disse Eli: É o SENHOR; faça o que bem lhe aprouver” (3:18). A Bíblia na Linguagem de Hoje traduz assim: “Faça Deus o que achar melhor”.
Essa frase proferida pelo sacerdote Eli indica sua rendição. Sua omissão o levou a passividade – aceitou a decretação da derrota dentro de sua casa. O juízo sentenciado por Deus deveria tê-lo conduzido às lágrimas. Entretanto, ele aceita a derrota. Eli aceitou passivamente a decretação da derrota sobre a sua casa. Ele não reagiu. Ele não clamou por misericórdia. Ele não orou. Ele, simplesmente, entregou os pontos.
Não há nada mais triste do que isso. Ver um pai desistindo dos seus filhos é algo deplorável. O silêncio de Eli dentro de casa foi a sua própria condenação. Luther King, em um de seus discursos, afirmou: “O que me preocupa não é o barulho dos violentos e sim o silêncio dos justos”. Eli se calou quando deveria ter gritado. Ele ficou parado quando deveria ter agido. Ele se rende quando deveria ter lutado pela sua família e salvação de seus filhos.
Não entregue os pontos! Não desista! Não abra mão da sua família! Você não gerou filhos para a morte. Você não gerou filhos para o cativeiro. Ore, lute, chore e jejue pela salvação dos seus filhos.

Conclusão
Um dos mais conhecidos pregadores da Inglaterra foi Richard Baxter. Quando jovem foi chamado a pastorear uma grande igreja, cujos membros eram ricos e instruídos. Achou-os, porém, frios e carnais. Por isto, ficou desapontado e deixou-se levar pelo desânimo. No auge da crise, declarou: “O único meio de salvar a Igreja é estabelecer a religião nos lares, e levantar o altar familiar”.
Passou três anos visitando casas e estabelecendo o culto doméstico. Seus esforços foram coroados com êxito. E, assim, o culto doméstico serviu de base a um movimento que trouxe à Igreja milhares de pecadores.
Essa é realmente a maior necessidade da Igreja contemporânea. Erguer o altar dentro do ambiente familiar é uma necessidade real e urgente.
Rev. Daniel Sampaio Mota

5 comentários:

  1. q benção d estudo ...muito bom..aprendi muito...

    claudeci_barbosa@hotmail.com

    Paz do Senhor !

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  2. "antes de mudar o mundo,temos que mudar nós mesmos...

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  3. Que coisa forte ! vou guardar para mim ,em meu coração como aprendizado.

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