segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Os dois princípios

Os dois princípios
Gn 1:1 e Jo 1:1

A sua história não começa com o seu nascimento. A sua história começou antes que você nascesse. Antes mesmo que seus pais ou seus avós viessem ao mundo. Existe um livro que é a sua biografia, cujo nome é Bíblia Sagrada. A Bíblia foi escrita para dar ao homem a razão de sua existência. Ela explica a origem de todas as coisas. Por isso, sua história começa em Gênesis 1:1, que diz: “No princípio, criou Deus os céus e a terra”.
Deus criou um mundo perfeito, um homem perfeito e o colocou num jardim perfeito que se chamava jardim do Éden. Nesse lugar o homem desfrutava de plena comunhão com Deus. O homem não adoecia nem morria. Sem sombra de dúvidas, o homem estava no melhor lugar do mundo. Entretanto a Escritura nos afirma que a desobediência trouxe desdobramentos terríveis para a humanidade. Como consequência da queda, o pecado entrou na raça humana e causou estragos desastrosos. Veja abaixo os principais estragos que o pecado trouxe ao homem:
1 – Separação entre o homem e Deus (Gn 3:24)
2 – O homem passou a experimentar a morte física e espiritual (Gn 2:17)
3 – A própria natureza foi abalada (Gn 3:17)
4 – As relações humanas foram afetadas (Gn 3:16)
Sendo assim, com a entrada do pecado na criação de Deus, o homem que havia sido criado perfeito e santo, tornou-se um pecador injusto. O homem que havia sido criado para viver eternamente experimentou a morte. O homem que foi criado para ter comunhão com o Eterno, tornou-se inimigo de Deus, passou a mentir, matar, roubar e destruir a própria criação. O homem que foi criado para ser livre tornou-se escravo. Depois da queda, a Bíblia traz o versículo mais triste já registrado nas páginas das Escrituras: “Deus expulsou o homem do jardim” (Gn 3:24).
Expulso de casa, o homem passou a vagar. Longe do seu lar, longe do seu Pai, afastado dos caminhos de Deus, sem vida, sem paz e sem alegria. O homem ficou completamente perdido. Foi isso o que aconteceu “No princípio”. O princípio da história do homem não foi muito feliz.
Mas a sua história não termina aqui. Deus decidiu reescrever um novo capítulo da sua vida. Assim como o Velho Testamento começa com a expressão “No princípio” , o Novo Testamento também começa da mesma forma. O apóstolo João inicia seu evangelho da seguinte forma: “No princípio era o Verbo” (Jo 1:1). Em Gênesis a história começa com a criação do homem. Em João o recomeço acontece a partir do Filho do Homem. O evangelista João afirma “E o verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai” (Jo 1:14).
Desta forma, assim como a queda do homem trouxe estragos terríveis para a humanidade, a vinda do Filho de Deus restaurou o projeto do Eterno. No Novo Testamento nós encontramos a história sendo reescrita por Deus, pois Ele envia seu Filho, seu único Filho, para reconciliar o homem com Deus. Os benefícios advindos da vida e morte de Jesus Cristo aniquilaram completamente as consequências do pecado sobre o homem. Sendo assim, biblicamente, podemos afirmar que:
1 – Em Cristo, a barreira da separação existente entre o homem e Deus é removida (Mt 27:51);
2 – Em Cristo, o homem tem direito à vida eterna (Jo 11:25);
3 – Em Cristo, a própria natureza será redimida (Rm 8:21);
4 – Em Cristo, os relacionamentos humanos são restaurados (Jo 15:17).
A obra de Cristo nos ensina que Deus deseja reescrever um novo capítulo da história da nossa vida. E a nossa nova história começa com Jesus. Santo Agostinho tem uma frase célebre, onde afirma: “Criaste-nos para Vós, e a nossa alma vive inquieta enquanto não repousa em vós”. Sua vida apenas será vida com o Autor da vida!


Rev. Daniel Sampaio Mota

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Educando filhos à maneira de Deus

Educando filhos à maneira de Deus

Introdução

Vivemos numa época em que há um verdadeiro zelo pela educação. Muito se tem investido em escolas e métodos de ensino. Isso acontece porque acreditamos que a maneira como educamos uma criança hoje transformará o seu futuro amanhã. Alguns cientistas políticos afirmam que o Estado pune aqueles que não conseguiu educar.
Por isso, não há nada que ocupe mais a preocupação de um pai do que a educação de um filho. O pai é capaz de gastar rios de dinheiro a fim de que o filho estude numa boa escola e desfrute de uma boa educação. E no nosso país a educação é algo que custa muito caro. À título de curiosidade, um pai que decide investir na formação superior de seu filho numa faculdade particular deve estar preparado para desembolsar em cinco anos uma quantia que excede cinqüenta mil reais.
Entretanto, no afã de promoverem a melhor educação, muitos pais acabam negligenciando aquilo que é fundamental na educação de uma criança. Diante disso, quero convidar você a meditar na Palavra de Deus sobre a maneira como Deus educa seus filhos. Deus é um pai por excelência. Quando o assunto é paternidade, ninguém ganha do Eterno. Então, medite sobre os princípios de Deus para educação de filhos:

1 – Os filhos devem ser educados segundo a Palavra de Deus
Antes de você ensinar a Palavra de Deus a seu filho, você precisa conhecê-la. Esse é um grande dilema hoje: muitos pais querem educar seus filhos na Igreja porque entendem que a Igreja é o melhor lugar para se educar filhos, mas não querem fazer parte da Igreja. Muitos concordam plenamente que seus filhos devem ser educados de acordo com os princípios da Bíblia, mas sequer conhecem a Escritura Sagrada, e nem mesmo trazem seus filhos à Escola Dominical.
O autor de Provérbios afirma que “a criança entregue a si mesma vem a envergonhar a sua mãe” (Pv 29:15). Se a Bíblia não for o alicerce sobre o qual a educação do seu filho for fundamentado, há uma grande probabilidade de que essa criança lhe cause vergonha e tristeza no futuro. Portanto, seja um pai sábio! Busque o conhecimento na Palavra de Deus e use os princípios da Escritura para educar seus filhos.

2 – Os filhos devem ser educados com tempo e ternura

Aqui reside outro perigo dos nossos dias. Muitos pais não têm mais tempo para seus filhos. Por isso, substituem presença por presentes. Há pais capazes de gastar duzentos reais num brinquedo para o filho, mas é incapaz de gastar vinte minutos lhe dando atenção. Não existe nada nesse mundo que possa compensar a ausência do amor que só um pai pode dar.
Quero aproveitar a ocasião e trazer um dado alarmante para os pais. A televisão tem se tornado um dos maiores problemas de nossa época. Seus filhos passam, em média, de quatro a cinco horas na frente do televisor. Isso significa que a cada semana, seu filho passou quase trinta horas na frente da tela, ou seja, a cada seis dias, seu filho permaneceu um dia inteiro na frente da televisão. É necessário que os pais estejam atentos aos perigos que circundam seus filhos.

3 – Os filhos devem ser educados com disciplina e correção
O livro de Provérbios está recheado de textos que orientam os pais a disciplinarem seus filhos. Seguem abaixo alguns textos que fundamentam esse ensinamento:
“O que retém a vara aborrece a seu filho, mas o que o ama, cedo, o disciplina” (Pv 13:24). “Castiga o teu filho, enquanto há esperança...” (Pv 19:18). “A estultícia está ligada ao coração da criança, mas a vara da disciplina a afastará dela” (Pv 22:15). ‘Não retires da criança a disciplina, pois, se a fustigares com a avara, não morrerá. Tua a fustigarás com a vara e livrarás a sua alma do inferno” (Pv 23:13-14). “Corrige o teu filho, e te dará descanso, dará delícias à tua alma” (Pv 29:17).
Esses textos nos mostram claramente que a disciplina é um ato de amor. Portanto, não se trata de uma punição ao menor, mas uma correção de caráter preventivo para que seus atos futuros não sejam de um delinqüente.

4 – Os filhos devem ser educados mediante o exemplo

Há um texto emblemático no livro de Provérbios, que diz: “Ensina a criança no caminho em que deve andar, e, ainda quando for velho, não se desviará dele” (Pv 22:6). Esse versículo traz um mandamento acompanhado de uma promessa. Contudo, há um detalhe que deve ser mencionado. O texto não diz que devemos ensinar “o” caminho, mas, antes, ensinar “no” caminho. Essa é uma diferença essencial que devemos observar caso queiramos compreender verdadeiramente o sentido do texto. Ensinar “o” caminho indica apenas mostrar o caminho. No entanto, ensinar “no” caminho significa ensinar enquanto se caminha junto.
Muitos pais apenas apontam o caminho a seus filhos. Todavia, a Bíblia ensina que o pai deve trilhar o caminho junto com o filho e ensinar a criança a caminhar “no” caminho. Em outras palavras, a Bíblia está dizendo que a educação deve ser precedida pelo exemplo. Os pais devem ser um referencial de vida para seus filhos, pois o exemplo não é o melhor método de ensino, é o único.

Rev. Daniel Sampaio Mota

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

As eleições e a parábola de Jotão

As eleições e a parábola de Jotão

“Foram, certa vez, as árvores ungir para si um rei e disseram à oliveira: Reina sobre nós. Porém a oliveira lhes respondeu: Deixaria eu o meu óleo, que Deus e os homens em mim prezam, e iria pairar sobre as árvores? Então, disseram as árvores à figueira: Vem tu e reina sobre nós. Porém a figueira lhes respondeu: Deixaria eu a minha doçura, o meu bom fruto e iria pairar sobre as árvores? Então, disseram as árvores à videira: Vem tu e reina sobre nós. Porém a videira lhes respondeu: Deixaria eu o meu vinho, que agrada a Deus e aos homens, e iria pairar sobre as árvores? Então, todas as árvores disseram ao espinheiro: Vem tu e reina sobre nós. Respondeu o espinheiro às árvores: Se, deveras, me ungis rei sobre vós, vinde e refugiai-vos debaixo de minha sombra; mas, se não, saia do espinheiro fogo que consuma os cedros do Líbano” (Jz 9:8-15).


O Brasil está às vésperas de uma eleição. Houve uma época em que os governantes eram impostos ao povo e sua forma de governo era baseada em modelos totalitários e opressores. Entretanto, a democracia deu ao povo a oportunidade de participar diretamente do pleito. Hoje, elegemos nossos pares, pois a Constituição assegura que todos são iguais perante a lei, não havendo distinção de cor, sexo ou religião. Dessa forma, os eleitores tornam-se co-responsáveis pela política, pois cabe à população dizer sim ou não às propostas de cada candidato. No próximo domingo, todos os cidadãos, ricos e pobres, brancos e negros, cristãos e ateus, irão às urnas para eleger candidatos que vão dirigir os rumos da nossa nação.
Exatamente nesse contexto cabe uma reflexão sobre a Parábola de Jotão (Jz 9:8-15). Sobre esse texto, o Pr. Paschoal Piragine Jr. faz a seguinte declaração: “A parábola de Jotão apresenta lições importantes sobre nossa missão no contexto político. Depois de Abimeleque ter assassinado seus 69 irmãos, os habitantes de Siquém decidem proclamar o fratricida seu rei. Jotão foi o único filho de Gideão a escapar com vida. É justamente durante a cerimônia de coroação que Jotão profere essa parábola profética contra o irmão e o povo, que além de patrocinar o mal exaltava-o publicamente”
[1]. Diante dessa parábola, quero convidar você a refletir sobre a realidade política em que o Brasil atravessa, tirando conclusões e assumindo novas posturas diante do pleito que se aproxima.

I – Quando os bons se omitem, os maus assumem o poder. A parábola afirma que inúmeras árvores foram cogitadas para reinar, sendo a oliveira, a figueira e a videira. Contudo, nenhuma delas quis assumir essa responsabilidade. Diante disso, não havia outra saída senão convidar o espinheiro para exercer tal função. Essa parábola ilustra que a presença de um mau governo se deve em função da omissão daqueles que poderiam fazer um bom governo. O padre Antônio Vieira afirma que a omissão é o pecado que se faz não fazendo. O apóstolo Tiago registra em sua carta: “Portanto, aquele que sabe que deve fazer o bem e não o faz nisso está pecando” (Tg 4:17). Martin Luther King Jr., pastor batista que lutou contra o racismo norte-americano, bradou: “O que me impressiona não é o grito dos tiranos, mas o silêncio dos justos”. O Brasil tem sido governado por espinheiros porque as oliveiras, as figueiras e as videiras estão se omitindo. Eis o motivo pelo qual a nação padece diante da gestão de pessoas inescrupulosas que estão interessadas unicamente no benefício próprio. Ética e moral são conceitos desconhecidos pela maioria de nossos parlamentares. Como bem disse Robinson Cavalcanti: “A maior crise que o país está vivendo não é econômica ou social, mas uma crise moral
[2]. A Bíblia está repleta de exemplos que reis e príncipes que conduziram a nação de Israel à apostasia. Há uma máxima popular que é verdadeira: o povo é o reflexo de sua liderança. Muitos cristãos estão à margem dos acontecimentos, alienados ao processo eleitoral. A Igreja brasileira, que deveria ser uma voz profética para bradar contra a impiedade de nossos governantes espinheiros, tem se prostituído com esse sistema corrupto. Muitos púlpitos são transformados em verdadeiros palanques eleitorais onde candidatos profanos sobem ao altar de Deus para manipular um rebanho que se tornou massa de manobra. A igreja brasileira não deve apenas orar, mas, sobretudo, ser uma Igreja consciente! Se há um dom que carecemos na atualidade é o dom do discernimento. Precisamos que homens e mulheres vocacionados por Deus se levantem para lutar pelos valores e princípios que a nação tem perdido. Nós podemos ser as árvores frondosas de que o país precisa. Não podemos omitir-nos nem achar que todos os que exercem a política são espinhos! Se os espinhos estão lá é porque as árvores se furtaram do seu papel![3]

II – Para servir é preciso sacrificar-se; para ser servido é preciso sacrificar os outros. Eis o motivo pelo qual muitos não querem servir nem se transformar em benção na vida dos outros. Perceba que oliveira disse: “Deixaria eu o meu óleo, que Deus e os homens em mim prezam, e iria pairar sobre as árvores?” (v. 9). Da mesma forma, a figueira se esquivou: “Deixaria eu a minha doçura, o meu bom fruto e iria pairar sobre as árvores?” (v. 11). Semelhantemente, a videira apresentou sua justificativa: “Deixaria eu o meu vinho, que agrada a Deus e aos homens e iria pairar sobre vós” (v. 13). Como se pode observar, o serviço exige abnegação e sacrifício, qualidades que nem todos estão dispostos a buscar. As pessoas não estão interessadas em sair da sua zona de conforto para se envolver nos problemas dos outros. Então, houve uma inversão abrupta da função pública, pois aqueles que deveriam se valer do cargo para servir os outros, utilizam o posto e suas prerrogativas para benefício próprio, em detrimento da opressão de seus súditos. De acordo com a parábola, o rei deveria pairar sobre as demais árvores, dando proteção e sombra a elas. A função do rei seria servir as demais árvores. Contudo, ao ser empossado rei, o espinheiro disse: “Vinde e refugiai-vos debaixo de minha sombra; mas, se não, saia do espinheiro fogo que consuma os cedros do Líbano” (v. 15). Ou seja, aquele que deveria ser um instrumento de benção, torna-se uma maldição. O espinheiro subjugou as demais árvores e passou a oprimi-las. Essa história é um retrato contemporâneo da política no Brasil. Basta ver e ouvir as propostas na propaganda eleitoral para vislumbrar que aquilo que se propõe é bem diferente da prática. Inclusive candidatos que se autodenominam evangélicos são flagrados em escândalos que envergonham o Evangelho de Cristo.
Sendo assim, quero alertar você para duas atitudes que você deve assumir com relação às eleições do próximo domingo.

Primeira Atitude: Ore! O apóstolo Paulo fez a seguinte exortação ao seu filho na fé, Timóteo: “Antes de tudo, pois, exorto que se use a prática de súplicas, orações, intercessões, ações de graças, em favor de todos os homens, em favor dos reis e de todos os que se acham investidos de autoridade, para que vivamos vida tranqüila e mansa, com toda a piedade e respeito. Isto é bom e aceitável diante de Deus, nosso Salvador.” (I Tm 2:1-3).
Segunda Atitude: Vote com consciência! Você conhece as propostas de seus candidatos? Muitos cristãos estão votando em candidatos que defendem abertamente a união homossexual, são favoráveis ao aborto, apóiam a lei da homofobia e tantas outras leis que ferem diretamente a Palavra de Deus. Como servo de Deus, seu primeiro compromisso é com a Palavra de Deus. Portanto, votar em candidatos que são instrumentos de satanás para implantar a institucionalização da iniqüidade é uma contradição. Portanto, saiba em quem você está votando e quais são suas propostas de governo.

"Não havendo sábia direção, cai o povo..." (Pv. 11:14).



Rev. Daniel Sampaio Mota


[1] PIRAGINE JÚNIOR, Paschoal. Crescimento Integral da Igreja: uma visão prática de crescimento em múltiplas dimensões. São Paulo: Editora vida, 2006, p. 178.
[2] CAVALCANTI, Robinson. Cristianismo e Política. Editora Ultimato, 2000.
[3] PIRAGINE, Idem, p. 179.

terça-feira, 6 de abril de 2010

O homem que escapou da cruz

O homem que escapou da cruz
Mateus 27:11-26

Introdução
Jesus está diante de um tribunal. Este tribunal é diferente de todos os outros tribunais já forjados na terra. De um lado estão os homens, representando a promotoria cujo papel é acusar. Do outro lado está Jesus, o Deus encarnado, na condição de réu. De um lado estão os homens, pecadores, corruptos e injustos. Do outro lado Deus, santo, onipotente e justo. Este foi o dia na história da humanidade onde os homens julgaram a Deus.
Jesus enfrentou seis julgamentos, sendo três julgamentos na esfera religiosa e três julgamentos na esfera civil.
• 3 julgamentos religiosos:
- Na casa de Anás (ex-sumo sacerdote);
- Na casa de Caifás (sumo sacerdote em exercício);
- No Sinédrio (Conselho de Anciãos – composto por 70 homens).
• 3 julgamentos civis:
- Diante de Pilatos;
- Diante de Herodes;
- Diante de Pilatos.
Em seus seis julgamentos, Jesus foi condenado em todas as instâncias. No tribunal religioso ele foi condenado à pena de morte pelo crime de blasfêmia, por se denominar Filho de Deus, ou seja, intitular-se como Messias. No tribunal civil Jesus foi condenado à pena de morte pelo crime de insurreição e rebelião, por se denominar rei. Diante do tribunal humano, Jesus foi considerado culpado.
Entretanto, existem duas marcas fortíssimas no julgamento de Jesus: ilegalidade e injustiça. Senão, vejamos:
1 - Todos os julgamentos de Jesus aconteceram de madrugada. Jesus foi preso entre duas e três horas da madrugada. Às nove horas da manhã já estava pendurado na cruz, ou seja, em menos de seis horas Jesus já havia passado por seis julgamentos diferentes.
2 – Jesus não teve direito a um advogado. Outro aspecto que merece ser pontuado é o fato que Cristo não teve direito a nenhum advogado, pois já naquela época havia a figura do defensor, amparado inclusive pela lei romana vigente. Nesse sentido, foi-lhe negado o direito ao contraditório e a ampla defesa. A Bíblia afirma que Jesus permaneceu em silêncio diante do seu julgamento. Assim o evangelista Marcos narra o julgamento de Pilatos: “Tornou Pilatos a interrogá-lo: Nada respondes? Vê quantas acusações te fazem! Jesus, porém, não respondeu palavra, a ponto de Pilatos muito se admirar” (Mc 15:4,5).
3 – A sentença baseou-se em falsas testemunhas. O evangelista Marcos registra o depoimento das testemunhas: “E os principais sacerdotes e todo o Sinédrio procuravam algum testemunho contra Jesus para o condenar à morte e não o achavam. Pois muitos testemunhavam falsamente contra Jesus, mas os a depoimentos não eram coerentes” (Mc 14:55,56). O evangelista Mateus é mais enfático ao afirmar a busca dos sacerdotes por testemunhos acusatórios falsos: “Ora, os principais sacerdotes e todo o Sinédrio procuravam algum testemunho falso contra Jesus, a fim de o condenarem à morte” (Mt 26:59).
4 – A condenação veio sem que nada de concreto pudesse ser provado contra ele. No julgamento civil a Bíblia afirma: “Disse Pilatos aos principais sacerdotes e ás multidões: Não vejo neste homem crime algum” (Lc 23:4).
Exatamente neste interstício do julgamento de Jesus que surge uma figura singular. Trata-se de um homem chamado Barrabás. Mas, afinal de contas, quem é Barrabás? Barrabás é um criminoso, assassino, rebelde e agitador. Alguém que queria tomar o poder através da violência. Charles Swindoll diz que a figura contemporânea que mais se aproxime de Barrabás é o terrorista. Barrabás estava na lista dos homens mais procurados do império romano.
A Bíblia afirma que Barrabás foi introduzido no julgamento de Jesus: “Ora, por ocasião da festa, costumava o governador soltar ao povo um dos presos, conforme eles quisessem. Naquela ocasião tinham eles um preso muito conhecido, chamado Barrabás. Estando, pois, o povo reunido, perguntou-lhes Pilatos: A quem quereis que eu vos solte, a Barrabás ou a Jesus, chamado o Cristo” (Mt 27:15-17).
Este é o cenário deste tribunal. De um lado Jesus (Deus, santo, justo, perfeito e puro) e do outro Barrabás (pecador, violento, assassino e rebelde). Mesmo diante da discrepância entre esses dois homens, a Bíblia diz que Jesus foi condenado e Barrabás foi liberto. Cristo foi sentenciado à morte e Barrabás foi absolvido de seus crimes. Jesus iria para a cruz e Barrabás voltaria para casa.
Diante disso, podemos questionar: Por que esse homem escapou da cruz?

I – Porque Jesus tomou o seu lugar (v. 17).
Três homens seriam crucificados naquela sexta-feira: um assassino e dois ladrões, Barrabás e outros dois homens. Aquela cruz do meio estava reservada para Barrabás.
Barrabás estava no corredor da morte, esperando apenas a execução da sua sentença. Portanto, Barrabás sabia que a cruz do meio era para ele. Aqueles cravos eram para ele. Aquele sofrimento estava reservado para ele.
Na teologia há o que chamamos de tipologia, ou seja, algo que simbolizava ou tipificava algo maior. Por exemplo, o reino de Davi tipificava o reino do Messias que seria estabelecido; Gênesis 22, quando Deus pede para Abraão sacrificar seu único filho Isaque, é uma tipologia do que Deus haveria de fazer com seu único filho; quando Oséias casa com uma prostituta o propósito é mostrar ao povo o adultério espiritual que a nação estava vivendo.
Sendo assim, neste texto Barrabás tipifica alguém: você! O que Cristo fez por Barrabás morrendo em seu lugar, foi exatamento o que Ele fez por nós: morreu no nosso lugar. Aquela cruz do meio era minha. Aquela cruz do meio era sua. Jesus ao invés de Barrabás significa Cristo ao invés de nós.
Deus não seria injusto se mandasse todos nós para o inferno. Na verdade, ele estaria exercendo sua justiça. Nós não merecemos ir para o céu. Nada do que você faça pode te levar para o céu. Por mais que você tente, por mais que você se esforce. A salvação não é alcançada por aquilo que fazemos, mas por aquilo que Cristo fez. Isso chama-se graça. Calvino chamou isso de Graça Irresistível. Charles Swindoll disse que “Deus construiu uma estrada para o céu. Esse caminho foi pavimentado com o sangue de Cristo”.

II – A morte de Jesus garantiu a sua liberdade (v. 26)
Páscoa significa libertação. A festa da Páscoa foi instituída para comemorar a libertação do povo do Egito (Êxodo 12). Não tem nenhuma ligação com coelho ou ovos de chocolate. Na noite que antecedeu a libertação do povo, Deus mandou a última praga: a morte dos Primogênitos. O povo de Deus deveria entrar em suas casas, sacrificar um cordeiro tomar o sangue do animal e aspergir sobre os umbrais e sobre as portas. Naquela mesma noite o anjo da morte iria passar por sobre a terra do Egito e ceifar a vida de todos os primogênitos, com exceção daqueles que estivessem nas casas marcadas pelo sangue do cordeiro morto na noite pascal. Assim diz a Bíblia: “O sangue vos servirá por sinal nas casas...” (Ex 12:13). A morte do cordeiro pascal garantiu a vida e a libertação do povo no Egito.
Por semelhante modo, o derramamento do sangue de Cristo, o cordeiro de Deus, garantiu a liberdade de Bartimeu. Jesus foi sentenciado para que ele pudesse alcançar a anistia. O apóstolo Paulo afirma que “Para liberdade foi que Cristo nos libertou” (Gl 5:1).

Conclusão
No ano de 2005 a revista Superinteressante publicou uma matéria com o seguinte título: Quem matou Jesus? No decorrer da matéria, os autores traziam cinco teses diferentes:
1 – os romanos;
2 – os judeus;
3 – a multidão insensata;
4 – os líderes judaicos que manipularam a multidão;
5 – Pilatos.
Biblicamente, todas estas respostas estão erradas. Conquanto, todas essas pessoas tenham tido participação na execução de Cristo, nenhuma delas pode ser responsabilizada individualmente. Segundo o ensino das Escrituras, somente uma pessoa pode ser declarada culpada pela morte de Jesus: você! Ele morreu por sua causa. Você é o grande motivo da morte de Jesus.
Rev. Daniel Sampaio Mota

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Um Evangelho para todos

Um Evangelho para todos
Lucas 18:35-43; 19:1-10
O Evangelho é uma mensagem universal. Não pertence a um grupo seleto de pessoas. Não é uma herança étnica ou cultural. Conquanto o Evangelho tenha suas raízes na nação de Israel, o propósito de Deus nunca foi que a mensagem das boas-novas da salvação ficasse enclausurada a um povo. Quando Deus chamou o patriarca Abraão, deixou claro que sua intenção era, a partir dele, abençoar todas as famílias da Terra, como segue a narrativa do texto sagrado: “Em ti serão benditas todas as famílias da Terra” (Gn 12:3). O apóstolo Paulo confirmou a Timóteo que o SENHOR “deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade” (1 Tm 2:4).
A passagem em questão nos remete a dois eventos que aconteceram na mesma cidade. Trata-se de dois homens que residiam em Jericó: Bartimeu e Zaqueu. Um, Jesus encontrou na entrada da cidade (Lc 18:35); o outro, Jesus encontrou no centro da cidade (Lc 19:1). Bartimeu era um homem pobre, mendigo e cego. Zaqueu era um homem rico, abastado, funcionário público (publicano, fiscal da receita). Enquanto Bartimeu vivia do lado de fora da cidade, Zaqueu vivia luxuosamente na parte mais requintada de Jericó.
Bartimeu era um homem muito conhecido em Jericó por causa do seu infortúnio. Zaqueu era conhecido em Jerico por sua riqueza. Dois homens completamente diferentes, mas com muita coisa em comum. Ambos carentes da graça de Deus. Bartimeu vive à margem da sociedade. É um homem infeliz por causa de sua condição de miserabilidade. Zaqueu pertence às mais altas camadas da sociedade. Um homem que fez fortuna, fez riqueza, mas alguém, igualmente, infeliz. Em suma: um é triste em sua pobreza; o outro é triste mesmo apesar da sua riqueza.
Zaqueu e Bartimeu representam um protótipo da sociedade pós-moderna. Tipificam o paradoxo e a discrepância social. Uma mesma cidade abriga ricos e pobres. A pobreza e a riqueza convivem lado a lado; onde a riqueza, que se concentra nas mãos de um grupo pequeno, é construída a partir da pobreza de uma maioria. Bartimeu tipifica a figura do explorado e Zaqueu do explorador. Bartimeu simboliza o oprimido e Zaque o opressor. Esses personagens são engrenagens de uma mesma máquina social. Encontramos aqui a gênese do capitalismo.
Outra semelhança entre esses dois homens diz respeito ao encontro que ambos tiveram com Jesus e nos dois casos a multidão aparece como um obstáculo para ambos (18:39; 19:3). Contudo, esse acontecimento na cidade de Jericó marca a vida desses homens. A partir da experiência de Bartimeu e Zaqueu, vemos que as portas do Evangelho estão abertas para todos os homens.

1 – Ambos, independentemente de sua condição, carecem de Deus (18:38; 19:4).

A Bíblia confirma que Bartimeu se utilizava de uma capa no seu trabalho de mendicância. Os biblistas afirmam que aquela capa lhe fora dada pelas autoridades romanas e funcionava como uma espécie de licença para esmolar. Em outras palavras, Bartimeu é um pedinte regulamentado pelo Estado – uma política social sectária. Por outro lado, Zaqueu era maioral dos publicanos. Colhia os dividendos da injustiça social. Sua riqueza era sustentada a partir da pobreza de outros.
Do ponto de vista social estes homens são completamente diferentes. Do ponto de vista espiritual a situação deles é idêntica. Em termos de salvação não há nada que seu dinheiro passa fazer por você! Um é pobre e está perdido. O outro é rico e está igualmente perdido.
Todos Necessitam da graça de Deus. Se você é rico, está perdido! Se você é pobre, está perdido! Alguém já disse que existe um lugar onde somos todos iguais: no caixão. A morte é implacável e não respeita condição social. Absolutamente todos terão que enfrentá-la e, portanto, carecemos da graça de Deus.

2 – Ambos recebem de Jesus a mesma atenção (18:40; 19:5)

Vivemos em uma sociedade onde você vale aquilo que você tem. Você vale o carro que possui. A maneira como você se veste determinará a maneira como as pessoas tratarão você. Entretanto, esse não é o tratamento que Jesus dava às pessoas. A mesma atenção dada ao rico foi dada ao pobre. Jesus não tem predileções. O tratamento de Deus é igual para todos. Nos dois casos, Jesus está caminhando com uma multidão de discípulos. E, em ambos os casos, Jesus pára para atender os dois homens.

3 – Ambos são curados (18:41,42; 19:8)

Bartimeu é curado de uma enfermidade física – cegueira.
Zaqueu é curado de uma enfermidade espiritual – avareza.



4 – Ambos são salvos (18:43; 19:9)

O texto sagrado deixa duas informações preciosas que apontam para a conversão destes dois homens. Quanto a Bartimeu, a bíblia diz: “Imediatamente, tornou a ver e seguia-o glorificando a Deus” (18:43, grifo meu). Aquele que antes estava à beira do caminho agora encontra-se no Caminho. Semelhantemente, a Escritura registra a confissão de fé de Zaqueu: “SENHOR, resolvo dar aos pobres a metade dos meus bens; e, se nalguma cousa tenho defraudado alguém, restituo quatro vezes mais” (19:8). O evangelista Lucas registra que, diante de tão grande prova de conversão, Jesus exclama: “Hoje, houve salvação nesta casa” (19:9).

CONCLUSÃO
A presença de Jesus na cidade de Jericó tem um significado histórico e espiritual. A cidade de Jericó foi a primeira grande cidade a ser destruída e conquistada por Josué na tomada da Terra Prometida. Havia uma grande muralha que protegia aquela cidade de seus inimigos. Quando as muralhas, milagrosamente, vieram a baixo, Josué pronunciou uma maldição: “Maldito diante do SENHOR seja o homem que levantar e reedificar esta cidade de Jericó: com a perda do seu primogênito a fundará, e com a perda do seu filho mais novo lhe colocará as portas” (Js 6:26).
Contudo, não atendendo à Palavra de Deus, durante o reinado do perverso rei Acabe, Jericó foi reconstruída (I Reis 16:34). A reconstrução da cidade aconteceu com o consentimento do rei através de Hiel. Conforme a palavra de Josué, ao lançar os fundamentos da cidade perdeu seu primogênito, e, quando assentou as portas, perdeu seu filho caçula.
Este fato é importantíssimo de ser considerado. O muro simboliza a separação. Portanto, quando Jesus dirigi-se à cidade de Jericó, ele atende a Bartimeu que está fora dos muros e a Zaqueu que está dentro dos muros. Pois em Cristo, os muros simplesmente não existem.
Antes de Cristo havia uma separação entre Deus e o homem, e entre o homem e seu próximo. A construção daquele muro custou morte do primogênito de Hiel. A derrubada dos muros que nos separavam de Deus e de nossos semelhantes custou a vida do Unigênito Filho de Deus. O apóstolo Paulo confirma essa verdade, ao afirmar: “Mas, agora, em Cristo, Jesus, vós, que antes estáveis longe, fostes aproximados pelo sangue de Cristo. Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos fez um; e, tendo derribado a parede da separação que estava no meio, a inimizade, aboliu, na sua carne, a lei dos mandamentos na forma de ordenanças, para que dos dois criasse, em si mesmo, um novo homem, fazendo a paz, e reconciliasse ambos em um só corpo com Deus, por intermédio da cruz, destruindo por ela a inimizade. E, vindo, evangelizou paz a vós outros que estáveis longe e paz também aos que estavam perto; porque, por ele, ambos temos acesso ao Pai em um Espírito” (Ef. 2:13-18, grifo meu).
Sendo assim, em Cristo, todos os muros ruíram. O véu do templo se rasgou. Já não há mais nenhum obstáculo que nos impeça a entrarmos na presença de Jesus.
Rev. Daniel Sampaio Mota

quarta-feira, 10 de março de 2010

Como atravessar a efermidade sem perder a fé

Como atravessar a enfermidade sem perder a fé


Introdução

A enfermidade é algo que afeta todos nós. Ela não respeita cor, sexo, idade ou condição social. Ela atinge homens e mulheres, crianças e velhos, pobres e ricos, crentes e incrédulos. Todos nós, em algum momento de nossas vidas, já tivemos que enfrentar uma enfermidade. O Rev. Hernandees Dias Lopes, com muita propriedade, disse que “a vida é a professora mais implacável que existe, porque primeiro ela aplica a prova e só depois ensina a lição. Na escola é diferente, primeiro aprendemos a lição e só depois é que vem a prova. Na vida há uma inversão, por isso, nenhum de nós está preparado para enfrentar uma enfermidade”. Conquanto a doença seja uma possibilidade universal, onde todos estão sujeitos, é um grande desafio teológico. Como conciliar a bondade de Deus com as conseqüências dolorosas da enfermidade?
Esse tema já foi debatido por inúmeros homens no percurso a história. C.S. Lewis afirmou que “Deus sussurra em nossos prazeres, mas grita em nossas dores”. Em um livro que se popularizou muito em nossos dias, Porque Coisas Ruins Acontecem a Pessoas Boas, o autor, que perdeu sua filha adolescente para a leucemia, passa o livro inteiro tentando explicar como Deus poderia ter permitido que isso acontecesse. A resposta que ele deu, em suma, foi a seguinte: Deus é bom, mas não há nada que ele possa fazer acerca do sofrimento. Ele não pode interferir. Suas mãos estão atadas. Ele não é culpado. Ele não pode ser acusado.
Entretanto, essa conclusão não é o resultado de um estudo apurado na palavra de Deus acerca da doença. Muito daquilo que tem sido dito sobre doenças partem de experiências pessoais de homens e mulheres que expressaram seus dilemas teológicos frente à enfermidade. Portanto, antes de ser uma análise bíblica e teológica são elucubrações de alguém que busca respostas para seus próprios questionamentos.
Por isso, quero convidá-lo a examinar quatro casos de enfermidade registrados no Novo Testamento, precisamente nas cartas paulinas, com o intuito de elaborar uma reflexão bíblica sobre o assunto. O tema de nossa mensagem é Como Atravessar a Enfermidade Sem Perder a Fé.

1º Caso: Trófimo – auxiliar de Paulo que o acompanhou na terceira viagem missionária
“Quanto a Trófimo, deixei-o doente em Mileto” (2 Tm 4:20)

2º Caso: Timóteo – jovem pastor da cidade de Éfeso, filho espiritual do apóstolo Paulo e amigo leal (das 13 cartas do apóstolo há 8 referências a Timóteo)
“Não continues a beber somente água; usa um pouco de vinho, por causa do teu estômago e das tuas freqüentes enfermidades” (1 Tm 5:23)

3º Caso: Epafrodito – amigo pessoal de Paulo e cooperador do ministério pastoral do apóstolo. Era um dos mensageiros encarregados de levar às igrejas as cartas de Paulo.
“Julguei, todavia, necessário mandar até vós Epafrodito, por um lado, meu irmão, cooperador e companheiro de lutas; e, por outro, vosso mensageiro e vosso auxiliar nas minhas necessidades; visto que ele tinha saudade de todos vós e estava angustiado porque ouvistes que adoeceu. Com efeito, adoeceu mortalmente; Deus, porém, se compadeceu dele e não somente dele, mas também de mim, para que eu não tivesse tristeza sobre tristeza. Por isso, tanto mais me apresso em manda-lo, para que, vendo-o novamente, vos alegreis, e eu tenha menos tristeza. Recebei-o, pois, no Senhor, com toda alegria, e honrai sempre a homens como esse; visto que, poir causa da obra de Cristo, chegou ele às portas da morte e se dispôs a dar a própria vida, para suprir a vossa carência de socorro para comigo” (Fp 2:25-30)

4º Caso: Apóstolo Paulo – o principal evangelista e teólogo da Igreja
“Por causa disto, três vezes pedi ao Senhor que o afastasse de mim. Então ele me disse:A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza” (2 Co 12:8,9a)
“E vós sabeis que vos preguei o evangelho a primeira vez, por causa de uma enfermidade física” (Gl 4:13).

A partir desses quatro casos (Trófimo, Timóteo, Epafrodito e Paulo), iremos analisar e extrair algumas premissas acerca da enfermidade que acomete o cristão.


1 – Até os filhos de Deus mais consagrados ficam enfermos

Os quatro exemplos envolvem líderes cristãos altamente notáveis, estimados e maduros. O apóstolo Paulo com seus escritos constitui a espinha dorsal da teologia cristã. Foi o maior teólogo e o maior plantador de Igreja. Um homem sem igual cujo currículo ministerial contemplava inclusive arrebatamento (2 Co 12:1-6). Os outros três homens foram líderes notáveis da Igreja Primitiva e companheiros fiéis do apóstolo.
A Bíblia diz que suas qualidades espirituais e ministeriais não impediram que os mesmos fossem acometidos por enfermidades. E, por conseguinte, sendo homens de uma grande estatura espiritual, não obtiveram a desejada cura divina. O Antigo Testamento também registra um caso emblemático. Eliseu, o grande profeta de Israel e instrumento de Deus para curar diversas pessoas, morre após o agravamento de uma enfermidade (2 Re 13:14,20).
Será que estes homens não tinham fé? Será que esses homens não oraram pedindo a Deus que os curasse? Definitivamente, não! Eram grandes homens de Deus. Mas, estes quatro casos vêm nos ensinar que o sofrimento não é incompatível com a vida cristã. Portanto, se você é um servo fiel a Deus e está passando por momentos de grande tribulação e tristeza, sendo varrido e consumido pela enfermidade, lembre-se: até os filhos de Deus mais consagrados ficam enfermos.



2 – Fazer a obra de Deus e estar no centro da vontade de Deus não nos isenta de enfermidades
Há uma tendência natural dos cristãos em atribuir a causa de doenças a pecados. Entretanto, todos estes homens estavam fazendo a obra de Deus e estavam exatamente no centro de sua soberana vontade.
A história da Igreja registra inúmeros casos de homens que foram instrumentos poderosos nas mãos do SENHOR e, mesmo assim, experimentaram as agruras da enfermidade. O grande reformador João Calvino era um homem extremamente enfermo, pois tinha asma, úlcera gástrica e cálculo renal. No entanto, pregava duas vezes todos os dias. No domingo chegava a fazer três pregações. Visitava, aconselhava, palestrava, estudava e correspondia-se com gente do mundo inteiro. Richard Baxter, pastor reformado do século XVII, sofria de várias e graves enfermidades. As constantes dores de dente, dores estomacais e hemorragias o fizeram ser tratado por 35 médicos diferentes, sem contudo dar solução aos seus problemas. Entretanto, esse grande pregador mantinha um trabalho constante de visitação, aconselhamento e pregação.
Esses são exemplos de homens que viveram no centro da vontade de Deus mas não foram poupados dos males da enfermidade. Portanto, caso você esteja atravessando uma tempestade avassaladora, lembre-se que isso não significa que você está em pecado ou mesmo está fora da vontade de Deus.


3 – A cura é um ato da soberania de Deus
A Bíblia registra alguns eventos onde Jesus curou todos, absolutamente todos que foram ao seu encontro (ver Mt 4:24; 8:16; Mc 1:32; Lc 6:18-19). Entretanto, a Bíblia também faz menção de alguns episódios onde Jesus curou um único indivíduo em detrimento de uma enorme multidão de enfermos que o cercava (ver Jo 5:1-9). Em alguns casos a cura aconteceu mediante a fé daquele que desejava a cura (At 14:9), em outros casos na ausência dela (Mc 9:24).
Conquanto Deus utilize homens para promover a cura, somente Ele pode curar alguém. Assim, figuras contemporâneas em nosso meio tais como “curandeiros” ou mesmo orações poderosas não existem. O que existe é a graça de Deus fluindo através de um homem que é um mero instrumento nas mãos do SENHOR. O apóstolo Paulo já havia pontuado: “Assim, não depende de quem quer ou de quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia” (Rm 9:16).
Esses quatro homens eram referenciais de vida e fé na comunidade cristã primitiva. Inúmeros milagres aconteceram através das mãos deles. Diversos enfermos foram curados através de seus ministérios. Mas no dia em que eles eram carentes de cura, não foram agraciados porque a cura é um ato da soberania de Deus e não estava nos planos do Eterno cura-los.


4 – Há um propósito divino em nossa enfermidade

Essa é uma doutrina que devemos nos agarrar com todas as forças. Na vida do cristão não existem casualidades. Quando o assunto é doença, nossa tendência é associar a enfermidade ao juízo de Deus. Imaginamos que a doença é algo contra nós é não a favor de nós. Achamos que Deus está trabalhando contra nós, quando na verdade Deus está trabalhando por nós.
O apóstolo Paulo nos garante que “todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito” (Rm 8:28). Não há nada que escape aos desígnios de Deus. Por isso, é importante lembrar-nos que SEMPRE há um propósito divino em nossa enfermidade.
A doença tem um efeito pedagógico. Os maiores ensinamentos não aconteceram em dias de prosperidade e saúde, mas em dias de dor e sofrimento. O grande pregador batista Charles Haddon Spurgeon afirmou que “só há uma benção maior do que a saúde: a enfermidade. Pois a enfermidade tem sido um instrumento poderoso para aperfeiçoar o servo de Deus”. Nenhum sofrimento é em vão. Todos eles obedecem aos decretos de Deus.
O apóstolo Paulo tinha pleno discernimento que suas cadeias, embora humanamente insuportáveis, estavam em concordância com os propósitos de Deus. Ele afirma: “Quero ainda, irmãos, cientificar-vos de que as cousas que me aconteceram têm, antes, contribuído para o progresso do Evangelho; de maneira que as minhas cadeias, em Cristo, se tornaram conhecidas de toda a guarda pretoriana e de todos os demais; e a maioria dos irmãos, estimulados no Senhor por minhas algemas, ousam falar com mais desassombro a Palavra de Deus” (Fp 1:12,13).
Portanto, refugie-se na Soberania de Deus e descanse sob a promessa de que as coisas que te aconteceram estão contribuindo para estabelecer os planos de Deus em sua vida.


5 – Deus nos conforta nas nossas enfermidades

Sempre quando oramos por cura esperamos receber o pleito de nossa petição. Entretanto, nem sempre Deus irá nos responder de acordo com nossas expectativas. No caso do apóstolo Paulo, a resposta que veio de Deus não era a que ele esperava nem a que ele queria, mas a que ele precisava (2 Co 12:9).
Muitas vezes, Deus não vai remover o sofrimento. Muitas vezes, Deus não irá curar. Não porque Ele não queira e nem você mereça. Mas, antes, porque aquela enfermidade obedecem aos seus propósitos. Contudo, uma certeza todos nós devemos ter: o SENHOR irá nos conceder conforto para suportar e condições para seguir.
Não estamos sozinhos em nossas batalhas. Ele prometeu estar conosco todos os dias, até a consumação dos séculos (Mt 28:20).


6 – A Suficiência da graça de Deus

Deus não deu a Paulo o que ele pediu, Deus deu a ele algo melhor – a graça (v. 9). O salmista declarou que “a tua graça é melhor do que a vida” (Sl 63:3). O Rev. Hernandes diz que a “Graça é a provisão de Deus para cada uma das nossas necessidades”.
No sepultamento do Pr. Gerson (Primeira Igreja Batista de Sobradinho), sua esposa disse: “eu não vou agüentar, eu não vou conseguir”. A sua mãe, que também havia passado pela viuvez, replicou: “Você vai ver, Deus vai te dar forças todos os dias”. A graça de Deus é a provisão diária para nossas carências e deficiências.
Diante da enfermidade, não permita que a sua fé sucumba, mas descanse na maravilhosa provisão da graça de Deus. A graça do SENHOR é suficiente em nossa vida. Estes quatro homens não obtiveram aquilo que pediram, mas receberam de Deus algo mais precioso. Receberam a superabundante graça de Deus!


Rev. Daniel Sampaio Mota