quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Edificarei a minha Igreja

Edificarei a minha Igreja

Mateus 16:13-20

Introdução

Corria célere a fama de Jesus. No capítulo anterior, Jesus havia realizado muitos milagres (Mt 15:29-31) e também multiplicado pães e peixes. Diante de tantos sinais, havia uma certeza que pairava sobre todos: Jesus não era um homem comum! Embora houvesse essa certeza, sobravam muitas dúvidas. Mas, afinal, quem era esse nazareno que fazia paralíticos andar? Quem era esse homem que devolvia vistas aos cegos, libertava endemoninhados e era capaz de alimentar uma multidão com apenas cinco pães e dois peixes? Quem é esse que até o vento e o mar lhe obedecem? (Mt 8:27).

Diante de tantos questionamentos, começaram a acontecer as especulações (Mt 16:14). E, no texto que agora lemos, encontramos as principais ideias que o povo tinha acerca da identidade de Jesus. Toda essa caixa de diálogo que se abre entre os versos 13 a 20 se desencadeia a partir de uma pergunta de Jesus: Quem diz o povo ser o Filho do Homem? (v. 13).

Aplicação: Em outras palavras, o que as pessoas estão dizendo a meu respeito? Quem é Jesus para você? Para muitas pessoas Jesus foi apenas um filósofo, um curandeiro, um homem simples que ensinava coisas sobre o amor. Alguém de um passado muito distante que disse e fez coisas importantes. Mas, e para você, quem é Jesus?

A resposta que os discípulos dão não é consensual. Eles afirmaram que o povo tinha diferentes concepções de quem era Jesus. O povo não tinha uma definição unânime. Os discípulos disseram a Cristo que o povo estava dividido em pelo menos 4 opiniões (Mt 16:14):

1 – João Batista. O próprio Herodes disseminou essa teoria (Mt 14:1-2). Uma teoria baseada numa heresia. Hoje nós conhecemos esse postulado como Reencarnação, mas na época de Cristo, falava-se em transmigração da alma.

2 – Elias. Esse era o grupo mais conservador, pois o profeta Malaquias havia profetizado que a vinda do Messias seria precedida pelo profeta Elias (Ml 4:5). Contudo, atribuir o cumprimento desse texto a Jesus era cometer um grave erro de interpretação, pois Jesus mesmo já havia declarado que o cumprimento dessa profecia se deu em João Batista (Mt 17:9-13).

3 – Jeremias. Esse era o grupo supersticioso. No período interbíblico, mais precisamente durante a Revolta dos Macabeus, difundiu-se a crença popular que Jeremias teria aparecido a Judas Macabeus. Desde então, o povo nutriu a superstição que o profeta Jeremias era uma espécie de “Anjo da Guarda” da nação de Israel.

4 – Algum dos profetas. Esse era o grupo indeciso. Todos tinham uma opinião, mas esse grupo tinha a opinião de todos.

Essa “babel” representa exatamente a diversidade de nossos dias. Há aqueles que creem em heresias, mentiras inventadas por homens. Há aqueles mais conservadores que se fundamentam em interpretações equivocadas. Há aqueles mais supersticiosos. E há também aqueles que são indecisos. É importante ressaltar que essas eram as opiniões do povo.

No entanto, Jesus se volta para os seus discípulos e pergunta: Mas vós quem dizeis que eu sou? (v. 15). Essa pergunta que Jesus faz aos discípulos deseja suscitar uma confissão de fé. O discípulo verdadeiro de Cristo não permite que suas convicções sejam moldadas pela opinião pública. Na verdade, o Evangelho sempre caminhará na contramão do curso deste mundo. O crente deve estar desejoso se sempre pronto para defender a sua fé, mesmo que sua posição seja contrária à multidão.

Para responder a pergunta, apenas o apóstolo Pedro responde: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo (v. 16).



Contextualização

Os versículos a seguir constituem a espinha dorsal da igreja. Esse texto é um dos textos mais básicos da teologia cristã. Durante séculos. Essa passagem tem sido uma fonte de controvérsia entre a Igreja Católica Romana e a Igreja Protestante. Isso se deve porque os romanistas consideram essa passagem como a Carta Magna do papado. A doutrina do papado é o fundamento sobre o qual toda a teologia católica se ergue.

E por que estudar um texto tão polêmico como esse no Aniversário da Igreja? A razão é simples: nossas ações são determinadas por nossas convicções. Aquilo que cremos determina aquilo que fazemos. Só podemos viver a verdade se, de fato, conhecermos a verdade. E, se tivermos uma compreensão correta das Escrituras, especialmente desse texto, seremos uma Igreja mais forte e um povo mais apaixonado por Deus e por sua bendita Palavra.

Então, vamos orar, para que a luz do Evangelho resplandeça sobre esse lugar e o Espírito Santo ilumine nosso coração para compreensão destas verdades. Oremos...


I – A Igreja nasce da revelação de Deus (v. 17)

“Aqueles que desejam construir a Igreja pela rejeição da Bíblia constroem um chiqueiro e não a Igreja de Deus” (João Calvino).

Essa expressão “carne e sangue” era frequentemente usada pelos rabinos para indicar a natureza e posição do homem em contraste com Deus. Champlin afirma que o esforço, a inteligência e a natureza humana não podem alcançar o conhecimento das verdades mais elevadas.

Muitas pessoas estão em busca de Deus. Uma pesquisa realizada no Brasil e divulgada recentemente pela revista Carta Capital apontou que 96% da população brasileira acredita na existência de Deus. Vivemos num país mergulhado na religiosidade. Mas, biblicamente, o homem não consegue chegar a Deus. Jesus afirmou “Tudo me foi entregue por meu Pai. Ninguém conhece o Filho senão o Pai; ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho quiser revelar” (Mateus 11:27).


II – A Igreja pertence a Cristo (v. 18)

Jesus disse: “Edificarei a minha igreja”.

A Igreja tem um dono: Jesus. Deus não divide a sua glória com ninguém. O profeta Isaías exclamou: “Eu sou o Senhor, este é o meu nome; a minha glória, pois, não darei a outrem” (Is 42:8).

Nós vivemos dias onde a igreja tornou-se propriedade dos seus líderes. É escandalosa a forma como o ministério tornou-se uma dinastia. O pai passa o poder para o filho ou para alguém do seu sangue. Isso, antes de ser uma contradição, é uma prática infernal e demoníaca! Hoje abaixo do nome da Igreja vem o nome do pastor: Igreja tal..., ministério pastor “x”. Essa é uma prática antibíblica.

As Escrituras dizem que a Igreja do primeiro século virou o mundo de cabeça para baixo (At. 17:6). Em nossa geração, o mundo é que está virando a Igreja de cabeça para baixo.

O apóstolo Paulo tratou dessa forma os pastores de Éfeso: “Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes a Igreja de Deus, a qual ele comprou com o seu próprio sangue(At 20:28).


III – A Igreja está fundamentada em Cristo (v. 18)

O versículo 18 é o que poderíamos chamar de o olho do furacão na controvérsia católica-protestante. Se você for à basílica de São Pedro (principal templo religioso da igreja católica), situada em Roma, no Vaticano, você vai ter uma impressão de como o catolicismo romano se estrutura fundamentalmente na doutrina do papado. É um templo de 23 mil metros quadrados, com 340 estátuas de santos. Foram necessários 20 anos para construir esse templo, cuja pujança e ostentação denunciam a riqueza do maior império da Terra – a Igreja Romana. Segunda a tradição católica o altar da basílica foi construída sob o túmulo de Pedro.

Na parte interior do templo, mais precisamente na abóboda da nave do templo, estão escritas as seguintes palavras em letras douradas: Sobre esta pedra edificarei a minha igreja.

Isso se deve porque a Igreja Romana crê e ensina que quando Pedro fez sua confissão, ele teve primazia frente aos demais apóstolos. Surge então a Doutrina do Primado de Pedro, sendo, portanto, o primeiro papa na sucessão papal. Entretanto, essa doutrina e, por conseguinte, toda doutrina católica se estrutura numa compreensão equivocada da Escritura. Senão, vejamos:

1. No grego, há um jogo de palavras, uma espécie de trocadilho.

2. O nome Pedro (Cefas) significa pedra.

3. O texto bíblico foi escrito em grego. E, no grego, Mateus usa a palavra Petros para se referir a Pedro. A palavra Petros significa “pedrinha” ou “fragmento de rocha”.

4. A segunda palavra usada por Cristo é Petra. Essa palavra sim significa “rocha”. Uma rocha usualmente utilizada no mundo antigo para fazer fundação.

5. O texto é assim: “Cefas, tu é Petros, mas sobre esta Petra...”. John MacArthur Jr diz que essa seria a melhor tradução: “Pedro, você é uma pequena pedra, mas eu edificarei a minha igreja na rocha sólida da verdade que você acabou de confessar”.

6. A Igreja não está fundamentada num homem, mas na confissão de uma verdade. Qual verdade? Jesus é o Cristo!

“Porque ninguém pode lançar outro fundamento, além do que foi posto, o qual é Jesus Cristo” (I Co 3:11).

“Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo Ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular” (Ef. 2:20).

“A pedra que os construtores rejeitaram, essa veio a ser a principal pedra, angular” (Mt. 21:42).

“Chegando-vos para ele, a pedra que vive, rejeitada, sim, pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa, também vós mesmos, como pedras vivas, sois edificados casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por intermédio de Jesus Cristo. Pois isso está na Escritura: Eis que ponho em Sião uma pedra angular, eleita e preciosa; e quem nela crer não será, de modo algum, envergonhado” (I Pe 2:4-6).


IV – A Igreja é Vitoriosa (v. 18).

A palavra traduzida como inferno é Hades, uma referência grega ao deus que tinha autoridade sobre o mundo dos mortos. E quando Cristo diz “as portas do Hades”, ele faz menção à corte, ao próprio trono de Satanás. Não há nada que possa conter o avanço da Igreja, nem mesmo o diabo. A Igreja é invencível, é indestrutível.

A Igreja sempre teve seus inimigos. Herodes, Nero, Domiciano e tantos outros. Onde estão os homens que desafiaram a Igreja? Apresentem-se. Onde está Stalin e Lenin que tentaram varrer o cristianismo com a ascensão do comunismo? Onde está Mao Tse Tung que perseguiu a igreja de Jesus na China?

Todos esses homens estão mortos! E onde está a Igreja? A Igreja está de pé! A Igreja está viva, marchando triunfantemente!

Ilustração: Voltaire, ateu, filósofo francês, foi o pior inimigo da Igreja durante o Iluminismo. Ele escreveu muitos livros e artigos atacando a Igreja. Ele tinha uma imprensa em sua casa e usou essa imprensa a todo vapor para produzir todo tipo de literatura cujo objetivo era minar e enfraquecer a Igreja de Cristo. Ele disse: “cem anos após a minha morte, o mundo acordará, e o cristianismo será apenas poeira”. 100 anos após a sua morte, sua imprensa foi comprada pela Igreja e foi impresso 1 milhão de Novos Testamentos.

Atualmente, o inimigo declarou guerra porque ele sabe que o seu tempo está acabando.


V – A Autoridade da Igreja (v. 19).

Para afastar de vez a ideia de que Pedro tem as chaves que abre as portas do céu para os homens, vejamos o texto de Mateus 18:18-20. Nesse texto, as chaves do Reino de Deus foram entregues não apenas a Pedro, mas aos demais discípulos.



Conclusão

Estamos trabalhando na obra mais nobre desta terra. Você não pertence a um clube ou associação. Você faz parte da Igreja. O povo mais feliz da terra. O povo que vai morar no céu.

No céu não cometeremos pecado e, portanto, não teremos a necessidade de nos arrepender. Mas Charles Haddon Spurgeon disse que muitos cristãos ao chegarem no céu irão ter um sentimento de arrependimento. Ele disse: “Muitos dirão naquele dia: eu deveria ter me dedicado mais a Cristo, deveria ter trabalhado mais em sua obra, deveria ter gastado todas as minhas energias e meus recursos para promover a glória de Deus!”.

Calvino disse: “Se nós não preferirmos a Igreja a todos outros propósitos de nosso interesse, não somos dignos de ser contados entre seus membros” .


Rev. Daniel Sampaio Mota